quinta-feira, 4 de julho de 2013

Diário de uma Terapia





Diário de uma Terapia

26 de Junho

Tenho constatado em mim um certo efeito de perplexidade no que vou descobrindo. Confesso que quando parti para este processo, dito terapêutico, não sabia o que poderia esperar, nem tão pouco o que iria encontrar por detrás daquela morada. Segui até lá, desafiei-me. Consegui dar-me esse tempo, afinal, merecido e reiterado por longos anos. Mas o que tenho vindo a compreender é qualquer coisa que jamais imaginei e que não sei se serei capaz de colocar em palavras. (A esta altura, pergunto-me se é assim para as outras pessoas que, como eu, embarcam nesta viagem?).

Bom, primeiro porque parecem infindas as verdades que se vão revelando aqui, dentro de mim. Verdades que não suspeitava ou das quais já me tinha esquecido!
Depois, este novelo que se desenlaça e onde um pensamento podem ser centenas de tantos outros, sem botão de STOP, como se tivessem vida própria... E na verdade até têm!
E por fim, a certeza de que há tanto por desvendar, por compreender, que acabo por estranhar esta minha morada, com paragem obrigatória num “Eu, Madalena” que me parece inacreditavelmente desconhecido.

É no meio deste desconcerto que me sinto estacionada hoje e nos últimos dias, entre a perplexidade do que é novo, do que é desvendado, e uma tristeza que me assola por tudo isto me ser precisamente demasiado novo, apesar de habitar por aqui há tantos anos...

A última sessão marcou-me neste sentido de que escrevo. Talvez como em nenhuma outra as palavras da terapeuta tenham ecoado em mim como sinos a entoar por uma aldeia inteira, sem deixar ninguém indiferente. Compreender que muito do que incomoda no fervilhar do meu marido com os miúdos é rever-me no papel de miúda a fervilhar por dentro (apenas por dentro e apenas de medo) de um pai que, a uma só voz, era capaz de silenciar uma casa inteira e, arrisco-me a dizer, um jardim de infância cheio de miúdos a bradar aos sete ventos!


-          Bom dia, Madalena!


E, 45 minutos depois, saio convicta  de que a minha dificuldade em ouvir o tom zangado do meu marido ou a voz esganiçada da minha colega, é a mesma com que me encolho perante o ar altivo que o meu patrão coloca quando algo corre mal, quando um pedido ou observação que é feito “com a máxima urgência” vem carregado de austeridade e até quando o caixa de supermercado me torce o nariz porque estou a demorar a encontrar o cartão de crédito, como aconteceu ainda esta semana! 

E perante a pergunta “como é que se sente nessas alturas, Madalena?”, eu respondo “a fervilhar, mas só por dentro!”.
E fico boquiaberta, sem resposta, quando oiço “bom, parece que enfrentar esse pai austero é verdadeiramente difícil para si”... E novamente o silêncio.



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