Tenho uma irmã; é mais nova do que eu 10 anos mas, em memórias perdidas no tempo, relembro-me das zangas, das guerras e até de andar à tareia exactamente uma semana antes de me casar! Quem tem irmãos que levante a mão se nunca teve uma boa briga que desse direito a arranhões, cabeças partidas e castigos no quarto! Ninguém levanta, certo?
Só tive uma filha o que na prática não me dá muita experiência no que diz respeito à forma como me posicionar em confrontos fraternos, no entanto, os meus dois sobrinhos, que tenho visto crescer a passos largos, têm sido um "laboratório" ao vivo onde me permito observar esta coisa de interacção entre irmãos; eles e as descrições fantásticas da minha irmã ao relatar-me os feitos extraordinários deles nesta área.
Como ela refere, são raros os dias em que não tem que correr para separar os filhos engalfinhados tais jogadores de boxe profissionais ou,colocá-los de castigo porque cada um deles virou o alvo do outro no arremesso dos legos ou, cuidar das feridas de um porque o outro lhe pregou uma rasteira; em desespero, em jeito de confidência ela refere o quanto lhe é difícil lidar com tudo isto e já não saber o que há-de fazer;
Por mais que eu lhe devolva que compreendo a sua frustração ao ver os seus filhos que tanto ama a não se entenderem, que não foi ela nem o pai que erraram na educação e que as diferenças entre irmãos são normais e que as discussões em família funcionam como um treino para a vida em sociedade promovendo, entre eles, o desenvolvimento de competências sociais e que ela e o pai tem dado aos filhos a noção dos limites dessas discussões, há dias que, esgotada, adormece enquanto lhe sugiro algumas estratégias...
Por isso e porque dicas neste campo ou, em outros, são às vezes tremendamente contentoras e auxiliadoras para todos os pais, aqui ficam algumas sugestões nossas:
- Cada um tem as suas necessidades e não é justo tratá-los de forma igual;
- Não faça comparações entre eles; elogie ou critique quando necessário mas não o faça usando o outro como referência;
- Estimule o brincarem e divertirem-se entre eles, afinal de contas o rir é um dos melhores aliados para a relação;
- Não os obrigue a fazer tudo, juntos; lembre-se de que cada um tem gostos e amigos diferentes;
- E não reponsabilize um pelo outro; não crie hierarquias entre irmãos;
Situações de conflito, como preveni-las:
- Sempre que começar uma discussão e rapidamente escalar para a agressão, não importa quem a começou, interrompe-se e colocam-se ambos de castigo. Para a próxima, quanto pensarem iniciar uma outra pode ser que se lembrem do castigo da última;
- Se o seu filho mais velho entrou em algum clube de futebol e teve que comprar uns ténis para o efeito, não compre uns iguais para o outro, ele não morre ao ficar frustrado por não ter uns como os do irmão. Quando for a sua vez e se for, também irá ter o equipamento necessário;
- Tenha em conta os gostos de cada um e evite colocá-los, se gostarem ambos do mesmo desporto, no mesmo espaço de treino físico; corre o risco de transformar este espaço num ringue de luta livre;
- Lembre-se que os filhos precisam de momentos de exclusividade com os pais; e cada elemento parental deverá ter o seu momento especifico, independentemente da sua identificação com o sexo do seu filho; não há programas de pai e filho e mãe e filha; se a mãe não souber jogar futebol, pode sempre andar de bicicleta e se o pai não souber pentear bonecas pode sempre ir comer um gelado ou levar a filha ao parque; importante são estes momentos de exclusividade.
Qual o momento certo de Intervir?
Depende sempre das características de cada criança mas, de uma forma generalizada os pais devem sempre interromper uma briga quando um dos filhos está completamente alterado, a chorar e aos gritos; neste patamar de irritação e descontrolo a criança perde a razão e toma atitudes impensadas. Está na hora de intervir!
- Não os separe aos berros porque aí dá o exemplo de completo descontrole quando o importante é ensiná-los a ter autocontrole;
- Nunca aceite que eles partam para a agressão de forma alguma, nem física, nem verbal; converse e diga-lhes que sentir raiva não resolve nada até porque violência gera violência!
Posto isto, nada que eu já não tenha sugerido à minha irmã e que ela não o tenha aceite com a certeza de que a partir de agora tudo iria ser paz e sossego; pois, nada disso!
Nas suas incursões por estes momentos de conflito, há alturas, tal como ela desabafa, seja pelo cansaço das rotinas diárias que exigem dela e do pai super poderes que não têm, seja pela irritabilidade de ambas as partes, que o bom senso não prevalece e instala-se um campo de batalha de tal ordem descontrolado que só lhe apetece fugir dali a sete pés! Acredito que sim, até a mim e sou só tia!
Mas não faz mal! Como lhe digo, haverão mais dias e momentos em que hão-de conseguir e esses vão, com certeza, prevalecer nos hábitos e memórias afectivas da família ...
Afinal de contas somos todos humanos e pais e mães...
Ana de Ornelas
O Canto da Psicologia
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