“…Quem sou eu?
Digam-me primeiro quem eu sou,
e se eu gostar de ser essa pessoa, eu subo;
senão fico cá em baixo até ser alguém que me agrade...”
Alice não sabe dizer quem é…eu também não me entendo,
tenho tantos tamanhos, todos diferentes num só dia,
é uma coisa que me confunde muito…”
Lewis Caroll, Alice no País das
Maravilhas
Conheci em tempos uma menina que num determinado Carnaval
e aquando do momento em que os pais lhe perguntaram do que é que ela se queria
mascarar, com o seu enorme desejo de explorar e conhecer mais
do mundo, responde:
-Este Carnaval quero ser uma girafa!
A mãe, desesperada e a pensar ao mesmo tempo onde é que
ia desencantar um fato de girafa, pergunta-lhe:
-Mas porquê uma girafa? (Questionando-se para si própria
porque não outro animal qualquer)
Ao que a criança, genuinamente como todas as crianças,
lhe responde:
-Porque eu gostava de ser uma girafa. São os animais mais
altos da selva. Conseguem ver tudo o que os outros animais não conseguem… achas
que podemos adoptar uma girafa?
É um bocadinho isto o Carnaval… aquele dia em que podemos
escolher ser quem quisermos, em que podemos escolher a máscara que queremos
usar.
Podemos olhar para este dia ou este conjunto de dias como
momentos com imensa potencialidade.
No caso dos adultos, na medida em que eles podem, em
certa medida, escolher a máscara ou a faceta que querem usar ou ser… no caso
das crianças porque naquele dia podem, na realidade concreta do dia-a-dia
escolherem ser o que quiserem – sem as tais máscaras que os pais ou as mães
lhes vão vestindo no quotidiano.
As crianças, mais do que os adultos, têm acesso a estes
momentos, quando estão a brincar ao faz de conta em que a fantasia lhes permite
serem princesas ou príncipes, dragões, tigres ou leões, ou quem sabe,
unicórnios…
Nós adultos, temos isto de outra maneira… temos isto
naquilo que somos, consciente ou inconscientemente no nosso dia-a-dia. Temos
isto quando colocamos as nossas máscaras, porque estamos em contextos
diferentes, porque temos diferentes estados de humor, porque temos diferentes
papéis, porque nos relacionamos com diferentes pessoas… mas estas máscaras,
muitas vezes, surgem-nos pela necessidade (real ou da fantasia) de que temos de
ser, ou de que temos de nos proteger, ou que temos de nos defender, ou corresponder,
ou qualquer outra coisa… e às vezes, tal como a Alice, ficamos baralhados com
os tantos tamanhos que temos ao longo de um mesmo dia.
Podemos olhar para o carnaval como o espaço onde os
adultos se libertam de algumas das suas máscaras e o momento em que podem dar
uso à fantasia e para as crianças, o momento em que podem aliar a fantasia à
realidade…
Drª Inês Lamares
O Canto da Psicologia
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