quinta-feira, 20 de junho de 2019

Transgeracionalidade - A herança psiquíca das famílias...






Quando um bebé nasce, transporta desde logo um legado, que lhe foi transmitido antes da sua concepção. O bebé sonhado pelos pais é um produto das histórias de cada uma destas personagens, para a qual converge a matriz familiar de ambos. A transmissão psíquica adensa-se na comunicação intrauterina, sendo este bebéherdeiro do lugar a que pertence, mesmo antes de nascer.
            Quando procuramos atribuir parecenças a um bebé, quando lhe damos o nome de um familiar, quando associamos um determinado comportamento a um membro específico da família, falamos precisamente de um legado que é herdado, o qual não é apenas fundamental no processo de construção da identidade, como, simultaneamente, no lugar que aquele bebé irá desempenhar na família.
            A transgeracionalidade pode ser representada, assim, como um conjunto de “vozes familiares” que estão gravadas internamente, sendo que o que diferenciaria uma pessoa de outra será a intensidade dessas vozes e a influência que exercem em cada sujeito. Isto significa que o que é dito nas famílias ou o que é silenciado, os mitos, os segredos, os pactos, são palco dessa transmissão psíquica, a qual pode ser consciente ou inconsciente. Neste sentido, muitos acontecimentos de uma geração podem ser o reflexo de acontecimentos que sucederam em gerações anteriores.
Há, portanto, uma espécie de “idioma” em cada família, a partir do qual se estabelece a comunicação entre os seus membros, podendo ser o palco para que ocorram padrões, repetições, os quais vão sucedendo de geração em geração. A clínica mostra-nos exemplos riquíssimos deste fenómeno – quando, na maternidade/paternidade se repetem padrões na forma como a pessoa foi filha(o); quando num casamento se repete um modelo de relação semelhante ao dos pais, avós, etc.; quando, numa família, há um quadro de alcoolismo que foi marcando a histórias de vários membros.
            O legado familiar faz parte da história de qualquer sujeito e, portanto, é inevitável. Contudo, esse legado não tem que ser vivido necessariamente como algo rígido e imutável para os descendentes de uma família: pelo contrário, pode (e deve) ser elaborado internamente, comunicado e, algumas vezes, reformulado, para que a família se desembarace desta espécie de “força invisível”, que, muitas vezes, empurra os seus elementos para a compulsão à repetição.





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