“Não viste o
buraco
Não tiveste
tempo
P´ra cuidar, p´ra apreciar, p´ra amar
Não tiveste
tempo,
não arranjaste
tempo
p´ra cuidar, p´ra
apreciar, pra amar
Alienada da
verdade
Não descobriste
um momento
Não arranjaste
um momento
Para aquilo que criaste
Não me deste
intimidade
Não me deste
estabilidade
Não me quiseste
conhecer
Não tiveste
tempo
Agora não tens
mais esse tempo
Agora não
consegues pedir mais tempo
Agora não dá p´ra
voltar
Agora não podes
mais voltar lá
Agora não podes
dizer-te desiludida
Agora não podes
dizer-te desiludida
Não quero a
injustiça do teu sentimento
Nem as magoas
que tu própria criaste
Não quero a tua
moralidade a gritar-me
Não quero as
tuas tristezas a afundar-me
Não podes voltar
ao tempo onde não tiveste tempo
Não podes voltar
ao tempo onde não arranjaste tempo
Por isso não me
grites pela tua própria frustração
Por isso não me
culpes pela tua falta de tempo
Por isso não me
digas que sou aquilo
enquanto eu sou
mais que isso
Não me diminuas
por teres te diminuído.
Não precisas de
voltar
Podes sempre
tentar conhecer-me agora
Com o tempo que
te resta
Podes sempre
mudar o que ainda te resta
Ainda podes
mudar o que te resta.
O conhecer-me
fez me crer em algo mais
Descobrindo
ideias e crenças falsas pelos demais
Abri uma porta
desconhecida pela multidão que em mim vivia
E vi que em mim
a luz sorria”
Poema de Inês R.
Quem nunca pensou ir à caixa das memórias e permitir que elas pudessem simplesmente fluir? Certamente, em alguns momentos, todos nós pensamos nisso… ou aconteceram-nos coisas, reais ou simbólicas, que nos fizeram ir lá espreitar… no entanto, há momentos, ou experiências demasiado dolorosas para serem vistas ou vividas. Não vemos só as memórias, sentimos a dor, sentimos a frustração, sentimos a mágoa… podemos até sentirmo-nos pequenos novamente, indefesos… ou podemos ficar simplesmente paralisados pelo medo da invasão ou do abandono.Aos poucos tem-se permitido mergulhar, numa nova
relação, e sentir que poderá não estar sozinha e não se afogar no processo.
Existiram e existem ainda momentos de dor, momentos de confusão, momentos em
que nada parece fazer sentido, de zanga e abandono, mas podem já existir
momentos em que é possível resignificar estas relações lá de trás, transformar
estas relações não nas relações ideais mas nas relações possíveis.
Uma paciente, um espaço terapêutico, onde
inicialmente pôde existir uma unidade existencial de relação, onde não houve
uma diferenciação entre eu, não-eu… até poder existir, até podermos começar a
caminhar como dois diferenciados, onde podemos pensar um caminho para a
independência, para a re-elaboração, para a criação de um, ainda pequeno, mas
possível, espaço de perdão e de integração.
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