“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” Carl Jung
Por vezes temos duvidas sobre; o que é o processo psicoterapêutico, o acompanhamento psicológico? O que esperar deste tipo de
apoio e do psicólogo? No que consiste? Nesta altura várias crenças aparecem
quando se decide iniciar uma psicoterapia, podem surgir vários pré-conceitos,
nomeadamente ideias de que o psicólogo é uma espécie de oráculo, que irá responder
a todas as questões que o paciente possa ter, numa perspetiva que o transforma
num psicoterapeuta que “sabe tudo” e, como tal, irá orientar e resolver todos
os problemas. Este mito, mesmo que inconsciente, traz várias dificuldades no
processo psicoterapêutico uma vez que leva o apoio para um campo paternalista
que deturpa todo o fim da psicoterapia que consiste, essencialmente, em
promover o auto conhecimento e a autonomia da análise no paciente. O objetivo
será sempre, estimular a independência do pensamento, único, próprio,
estreitamente ligado à personalidade e identidade genuína do mesmo, só assim o
paciente poderá realmente evoluir para o que, no seu âmago, considera ser o
caminho certo. Com este mito o paciente poderá depositar no psicólogo a
responsabilidade de decidir ou avaliar o que esta certo, errado ou qual o
caminho a seguir, mas apenas o próprio sujeito poderá definir estes conceitos e
tomar decisões, mesmo que, por vezes, seja difícil e ainda que não esteja a
encontrar a melhor tomada de decisão. Neste momento o psicólogo estará presente
na consulta, para promover a regulação emocional que permite lidar e aceitar
esta frustração, ate que o paciente encontre, de forma autónoma, a solução que
pretende.
Outro mito que pode ser abordado é o do SOS, de que só
se vai ao psicólogo em situações de grande crise ou de desespero, isto é,
quando a pessoa está no seu “limite” então vai recorrer à psicoterapia numa perspetiva
de alívio e de solução. Assim quando estiver muito mal irei à consulta de
psicologia. Esta ideia é muito comum, no entanto, não é de todo o que se
pretende em psicoterapia, embora possamos dar apoio psicológico em situações de
crise, o objetivo da psicoterapia é ir mais além, ou seja será, em condições de
boa evolução, precisamente prevenir estas situações de “limite”, uma vez que o
trabalho psicoterapêutico irá desenvolver, progressivamente, um maior
entendimento no paciente sobre si próprio, através da compreensão mais
aprofundada e da organização de um pensamento estruturante e apoiante que
integra as emoções negativas que parecem não ter solução.
O paciente Influenciado por este mito do SOS,
eventualmente considera que apenas terá de ter sessões consoante se sentir bem
ou se sentir mal, como se as sessões fossem um “medicamento” que acalma
pontualmente, porém a psicoterapia assenta em princípios fundamentais
relacionados com a frequência e tempo. Uma vez que o processo necessita de
continuidade e consistência para que efetivamente se deem as evoluções no
paciente.
Quando algumas memórias não são aceites e integradas,
para que sejam naturalmente evocadas sem causarem angústia, tristeza,
paralisia, medo, podemos acabar por nos deixar arrebatar. Por isso o trabalho
psicoterapêutico ser tão enriquecedor. Para evoluirmos necessitamos de nos
libertar dos caminhos superficiais e procurar os mais profundos, que nos levam
a lugares frutíferos de consciência ampliada.
Existem vários mitos apenas estou a focar alguns,
sendo que o último que irei debruçar é o do apoio psicológico é só para os
“loucos”, a psicoterapia é um recurso para o ser humano, através da qual poderá
construir uma maior autonomia no seu pensamento e, nesse processo, desenvolver
uma capacidade de regular e lidar com os obstáculos/desafios da vida de uma
forma resiliente. Neste sentido não retira os problemas, obstáculos mas promove
no paciente a capacidade de analisar as situações em várias perspetivas para
que consiga gerir internamente, da melhor forma, o que se apresenta no
exterior. A psicoterapia é para todos, em todas as situações da vida e um dos
seus trabalhos é, precisamente, desconstruir estes mitos e fantasmas que nada
estão relacionados com a realidade.
Assim sendo o psicólogo na sua humanidade, pois antes
de tudo somos humanos e genuínos, coloca-se como um co-construtor de
pensamentos saudáveis que possibilitam o nascimento de emoções apaziguadoras,
não obstante os menos bons momentos continuarem a surgir, assim como as emoções
negativas associadas, mas a forma como o paciente as vai integrar e gerir é que
consiste a verdadeira mudança, que só opera, no seu devido tempo e num ritmo
próprio que não é mesurável.
O psicoterapeuta não é assim o salvador, o detentor
da moral e do julgamento, antes pelo contrário é o que não julga, pois analisa
minuciosamente o que se passa, através da empatia e da procura de compreender o
outro acima de tudo.
Augusto Cury referiu em Sonhar é Preciso; “ Sem sonhos, as pedras do caminho tornam-se
montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são insuportáveis,
as decepções transformam-se em golpes fatais e os desafios em fonte de medo.”
O Sonho é fundamental, assim como a esperança de que melhores fases virão! Por
isso celebramos e cuidamos da nossa “casa interna”, tornando-a sólida,
acolhedora e sustentadora de todas as nossas emoções. Só quando nutrimos bem a
nossa casa e aprendemos a cuidar de nós próprios é que podemos realmente cuidar
dos outros. Por isso trata bem de ti, por mim, que eu trato bem de mim, por ti.
Sem comentários:
Enviar um comentário