Muito se tem falado sobre burnout, agora que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) introduziu este síndrome na Classificação Internacional de Doença, classificando-o como um distúrbio ocupacional,
pertencente à categoria de problemas relacionados com o emprego e desemprego.
Designado como síndrome de esgotamento profissional, o
burnout advém do stress crónico no local de trabalho e não deve ser
utilizado para descrever experiências noutras áreas da vida que não o contexto profissional.
Caracteriza-se de acordo com três dimensões: sensações de esgotamento de
energia ou exaustão; aumento da distância mental do emprego ou sentimentos de
negativismo ou de cinismo relativamente ao emprego; reduzida eficácia
profissional. O reconhecimento deste síndrome pela OMS reveste-se de elevada pertinência
e contribui significativa e positivamente para o cuidado com este aspeto da
saúde mental, que, como tantos outros, é muitas vezes menosprezado e tem efeitos
nefastos no bem estar físico e psicológico.
Não obstante, parece também muito pertinente abordar questões psicológicas associadas ao bem-estar no trabalho que podem eventualmente ser
confundidas com o síndrome ou erradamente atribuídas a uma qualquer situação
laboral adversa. Uma vez que o contexto profissional absorve tanto tempo da
vida das pessoas e é onde diversas relações se estabelecem, constitui um
terreno fértil para a expressão das vivências internas e experiências emocionais de todos que pertencem a esse contexto. Assume-se portanto como uma
parte muito relevante para a vida das pessoas e o seu bem-estar. Por tudo isto
muitas vezes a fronteira que separa o que é do foro pessoal do profissional
torna-se pouco clara. É necessário estarmos atentos a outros fatores que possam
estar implicados ao mal estar que se sente no trabalho.
No consultório são vários os casos com que nos deparamos. Como
por exemplo, quando as pessoas deslocam massivamente determinadas necessidades
pessoais e afetivas para o contexto do trabalho, seja com colegas, chefias ou
clientes. Necessidades como o reconhecimento do outro ou o investimento
narcísico pelo outro, quero dizer, o reconhecimento da realização correta de
determinadas tarefas e das suas qualidades e competências mas também como algo
que preenche um sentido de existir ao olhar do outro... algo que terá faltado
nas relações pessoais e significativas. Algo que provoca um intenso sofrimento
psicológico e que faz reunir doses substanciais de zanga e frustação, também
estas deslocadas para o contexto profissional. Um deslocamento que está
associado à fronteira algo frágil entre realidade interna e externa. Ou noutros
casos, quando as queixas em relação ao trabalho aparecem mais imersas com
outras questões do foro pessoal e intímo e é possível constatar que, à medida
que essas questões são trabalhadas, a forma como as pessoas se situam em
relação ao trabalho se vai transformando também e começam a sentir mais
bem-estar no contexto profissional.
O que pretendo aqui é chamar à atenção para a necessidade de
abordar e trabalhar sobre o funcionamento e situações anteriores à situação
laboral, perceber que para além do stress no trabalho há outros fatores que
impregnam este contexto de questões importantes e que precisam de ser olhadas e
trabalhadas por si próprias. Falo da necessidade de diferenciar o que é imposto
e provocado pela realidade externa do contexto laboral do que é do foro pessoal
e que atua ou se revela nesse contexto, misturando-se com ele.
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