Nunca houve tanto conhecimento como aquele
que temos agora e nunca o acesso à informação foi tão fácil e rápido. Por outro
lado, e no que diz respeito às emoções, a ciência e a investigação muito têm
contribuído para o reconhecimento da importância do cuidado a ter com a saúde mental.
Talvez por isso, ainda me surpreenda e fique atónita quando oiço certas
afirmações e proposições!
Afirmar que a psicoterapia é para pessoas fracas de espírito ou para pessoas
loucas não só é errado como é precisamente o oposto daquilo que é vivido nas
sessões de psicoterapia.
O contexto psicoterapêutico surgiu, numa fase inicial, relacionado com o
tratamento de perturbações psicológicas graves, mas rapidamente se descobriu
que os seus benefícios eram evidentes e inequívocos em vários âmbitos.
Fazer psicoterapia exige coragem,
persistência e uma dose de bravura considerável.
Durante a nossa vida somos confrontados com diversas situações que impactam a
nossa estrutura psicológica, seja por eventos externos que não controlamos ou
até mesmo por eventos internos que criamos involuntariamente em idades muito
precoces. Todos nós experienciamos e lidamos com acontecimentos que nos marcam
inevitavelmente.
Muitas vezes seguimos um caminho que achamos mais fácil e, acabamos por
esconder medos e inseguranças, utilizamos o trabalho, a família, a relação
amorosa ou outro motivo qualquer para justificar o mau estar que sentimentos
internamente e sem saber vamos agravando a situação.
Estar disponível para analisar e compreender o próprio funcionamento
psicológico com um terapeuta pressupõe uma capacidade de olhar para si sem
receio daquilo que se vai encontrar ou descobrir. Conseguir ver não só as
partes boas como também as partes menos boas e constatar que também somos
imperfeitos implica uma capacidade extra de recursos mentais.
Fazer psicoterapia significa reconhecer e
aceitar as fraquezas que habitualmente surgem acompanhadas de falhas e feridas
internas.
É neste processo de reconhecimento e compreensão que nos vamos permitindo a
pensar e consequentemente a resolver questões profundas. Quando paramos para analisar
e através da fala, vamos dando sentindo à nossa história, aumentamos a nossa
capacidade de integração psíquica que conduz a um funcionamento psicológico
mais adequado.
Todos temos sintomas, angústias e sentimentos que camuflamos de forma mais
ou menos adaptativa. Quanto mais inflexível é este movimento defensivo, mais
longe nos colocamos da nossa autenticidade e mais sofrimento suportamos.
Durante o processo psicoterapêutico há lugar para tudo e tudo é pensado: acontecimentos
de vida, atitudes expressas, sentimentos de desvalorização, modo como nos posicionamos
nos relacionamentos, entre outros. Estes fatores são transpostos para uma
perspetiva diferente e questionados de uma nova forma com vista à sua
compreensão. Assim, passa a ser possível entender como as emoções anteriores
reprimidas afetam a tomada de decisões, o comportamento e os relacionamentos
atuais. É através deste novo pensar que o conhecimento sobre si próprio aumenta
e a mudança vai acontecendo.
A psicoterapia não trata somente de patologias psicológicas, ela também age no
autoconhecimento e consequentemente no bem-estar psíquico. Sentirmo-nos bem
emocionalmente influencia não só a nossa saúde física como melhora as
experiências e os relacionamentos interpessoais, atuando simultaneamente na
prevenção e manutenção da saúde mental.
Soluções milagrosas não há, mas fazer psicoterapia é uma atitude saudável e
isso, é de gente com bravura!
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