quinta-feira, 30 de maio de 2019

A Psicoterapia é para pessoas fortes ou para pessoas fracas?





Nunca houve tanto conhecimento como aquele que temos agora e nunca o acesso à informação foi tão fácil e rápido. Por outro lado, e no que diz respeito às emoções, a ciência e a investigação muito têm contribuído para o reconhecimento da importância do cuidado a ter com a saúde mental.
Talvez por isso, ainda me surpreenda e fique atónita quando oiço certas afirmações e proposições! 
Afirmar que a psicoterapia é para pessoas fracas de espírito ou para pessoas loucas não só é errado como é precisamente o oposto daquilo que é vivido nas sessões de psicoterapia. 
O contexto psicoterapêutico surgiu, numa fase inicial, relacionado com o tratamento de perturbações psicológicas graves, mas rapidamente se descobriu que os seus benefícios eram evidentes e inequívocos em vários âmbitos.

Fazer psicoterapia exige coragem, persistência e uma dose de bravura considerável. 

Durante a nossa vida somos confrontados com diversas situações que impactam a nossa estrutura psicológica, seja por eventos externos que não controlamos ou até mesmo por eventos internos que criamos involuntariamente em idades muito precoces. Todos nós experienciamos e lidamos com acontecimentos que nos marcam inevitavelmente.
Muitas vezes seguimos um caminho que achamos mais fácil e, acabamos por esconder medos e inseguranças, utilizamos o trabalho, a família, a relação amorosa ou outro motivo qualquer para justificar o mau estar que sentimentos internamente e sem saber vamos agravando a situação.

Estar disponível para analisar e compreender o próprio funcionamento psicológico com um terapeuta pressupõe uma capacidade de olhar para si sem receio daquilo que se vai encontrar ou descobrir. Conseguir ver não só as partes boas como também as partes menos boas e constatar que também somos imperfeitos implica uma capacidade extra de recursos mentais.   

Fazer psicoterapia significa reconhecer e aceitar as fraquezas que habitualmente surgem acompanhadas de falhas e feridas internas

É neste processo de reconhecimento e compreensão que nos vamos permitindo a pensar e consequentemente a resolver questões profundas. Quando paramos para analisar e através da fala, vamos dando sentindo à nossa história, aumentamos a nossa capacidade de integração psíquica que conduz a um funcionamento psicológico mais adequado.


Todos temos sintomas, angústias e sentimentos que camuflamos de forma mais ou menos adaptativa. Quanto mais inflexível é este movimento defensivo, mais longe nos colocamos da nossa autenticidade e mais sofrimento suportamos.  Durante o processo psicoterapêutico há lugar para tudo e tudo é pensado: acontecimentos de vida, atitudes expressas, sentimentos de desvalorização, modo como nos posicionamos nos relacionamentos, entre outros. Estes fatores são transpostos para uma perspetiva diferente e questionados de uma nova forma com vista à sua compreensão. Assim, passa a ser possível entender como as emoções anteriores reprimidas afetam a tomada de decisões, o comportamento e os relacionamentos atuais. É através deste novo pensar que o conhecimento sobre si próprio aumenta e a mudança vai acontecendo.


A psicoterapia não trata somente de patologias psicológicas, ela também age no autoconhecimento e consequentemente no bem-estar psíquico. Sentirmo-nos bem emocionalmente influencia não só a nossa saúde física como melhora as experiências e os relacionamentos interpessoais, atuando simultaneamente na prevenção e manutenção da saúde mental.

Soluções milagrosas não há, mas fazer psicoterapia é uma atitude saudável e isso, é de gente com bravura!






 



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