quinta-feira, 16 de maio de 2019

Psicoterapia: sessão a sessão, um pouco mais de compreensão...






No mal-estar psicológico, poderá ser difícil perceber a sua tonalidade emocional e expressão de significado. De facto, no contexto clínico -  e em particular, neste texto, no domínio da psicoterapia com adultos - muitas vezes, os pacientes relatam, inicialmente, que se sentem mal, mas pouco conseguem descrever como é esse sentir, de que tipo e que pensamentos estão associados. Nestes casos, a psicoterapia, numa vertente claramente compreensiva, poderá proporcionar, gradualmente, um aumento de clareza ao nível da identificação das emoções e a sua articulação com os pensamentos. A compreensão crescente sobre o mundo interno trará, assim, uma maior sensação de harmonia ao fluir vivencial, dado que cada «nota» de emoção será melhor escutada, contida e percebida pelos processos de pensamento.

Naturalmente, o mundo interno vive em relação dinâmica com o mundo externo, onde se enquadram os comportamentos, acontecimentos de vida e a prática das relações interpessoais. A compreensão deste balanceamento sistemático, entre o interior e o exterior, nomeadamente das suas dinâmicas de inter-influência, é algo a explorar e, em grande medida, a exercitar com os pacientes, para que tais significados se desenvolvam e se tornem mais presentes, conscientemente, nas várias dimensões de vida. Deste modo, não se evitará que o mal-estar psicológico possa voltar, mas, sem dúvida, que se estará muito melhor preparado para o identificar, acolher e transformar.

Todavia, importa frisar que o psicoterapeuta não tem, por si só, o poder de transformar as vidas dos seus pacientes. E essa "falha" é talvez a sua maior virtude, desde que a aceite e se lembre dela! De outro modo, acreditar que se consegue mudar os outros, sem a sua participação e vontade conscientes, é, não só uma ilusão, mas também um grande desrespeito pelos mundos próprios e competências dessas pessoas. Na realidade, os psicoterapeutas não são uma espécie de mágicos, super-heróis ou salvadores que transformam as vidas dos pacientes. De facto, não servem para isso, não só porque não têm essas características milagrosas, mas também porque cultivam, nas suas práticas profissionais, o respeito  pelas livres e responsáveis decisões de vida das pessoas.

Assim, é a (boa) relaçãoterapêutica que é facilitadora do desenvolvimento do paciente - naquilo que, profundamente, lhe fizer sentido na sua vida - e, para tal, o psicoterapeuta,para além de estar consciente e empenhado no bom exercício do seu específico papel relacional, necessita da colaboração, pelo menos mínima, do paciente. A motivação suficiente da pessoa que é acompanhada num processo psicoterapêutico, com tudo o que isso implica, nomeadamente ao nível do compromisso inerente, custos económicos e de tempo, é tipicamente algo a ser esclarecido e, eventualmente, consolidado para que se desenvolva uma aliança terapêutica suficientemente firme e favorável à prossecução dos objectivospsicoterapêuticos.

Por conseguinte, existindo as condições mínimas necessárias, a psicoterapia poderá seguir o seu curso natural proporcionado pela aliança terapêutica e, nessa medida, sessão a sessão, poderá se alcançar um pouco mais de compreensão, de (re)descoberta do paciente na relação consigo próprio, com o psicoterapeuta, com os outros e, por extensão, com a própria vida. 






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