A
maioria da procura, para o apoio psicoterapêutico, parte devido a relações disfuncionais que causaram sofrimento nos pacientes. Às vezes questionamos
porque, para uns amar é simples e fluido, apesar de alguns desafios e, para
outros, é um susto, uma preocupação, uma confusão, uma incoerência? Assim temos
pessoas capazes de crescer e evoluir nas relações e, outras, que vão somando
desilusões que são difíceis de resolver.
O
amor saudável aprende-se desde pequenino, tal como se aprende a falar, a andar
e, também, vamos aprendendo, o que é isto de estar numa relação com os outros
especiais, na nossa vida. O que é que isso implica? Como é que os nossos pais
nos colocaram na relação? A forma como, os mais significativos, pensaram em nós
e como nos trataram, vai influenciar todos os relacionamentos futuros, assim
como, a saúde psicológica de cada um.
Ao
longo do desenvolvimento da criança organiza-se um processo mental sobre o que
esperar dos comportamentos dos mais familiares, normalmente mãe, pai, avós,
denomina-se de vinculação, sentido de pertença e de segurança. As figuras
centrais que estão maioritariamente com a criança, principalmente nos primeiros
três anos de vida, vão criar dinâmicas relacionais que irão moldar o sentido de
identidade, segurança e de amor-próprio na criança, bem como no futuro adulto.
As
expetativas que os pais desenvolvem, mesmo antes do nascimento do bebe, vão
criar um ninho psicológico onde o mesmo se irá adaptar. A criança procura
sempre se adequar às expetativas dos pais, quer sejam, positivas, negativas,
conscientes, inconscientes. Por exemplo, se os pais assumirem a crença de que
as crianças são difíceis e que o filho\a é difícil e tem mau feitio, o mais
certo é essa criança desenvolver essas mesmas características. Quanto mais
vincado, consistente e frequente for o sentimento\crença mais a criança irá
assumir comportamentos semelhantes que se coadunam com o que esperam dela, isto
porque, os pais são como um espelho onde o bebe\criança se pode ver refletido
e, assim, construir a sua própria identidade. O que as figuras de vinculação
sentem que são (essencialmente boas pessoas, imperfeitos, mas conscientes,
resilientes e positivos) é o que vão transmitir tendo consciência ou não aos
seus filhos, sem pensar muito no assunto. Assim sendo quando as figuras
centrais de vinculação estão bem nutridas, com uma boa auto-estima, tem auto
conhecimento, consciência das suas vulnerabilidades e trabalham no sentido de
promoverem a melhor parentalidade que é possível, normalmente irão desenvolver
crianças mais inteligentes emocionais e mais flexíveis, no que concerne a
adaptabilidade emocional e a regulação da frustração. Não se trata de
perfeição, pais perfeitos, trata-se de capacidade de analise e procura de dar o
nosso melhor nas relações, mesmo sabendo que vão existir falhas e momentos
menos bons. Neste sentido quanto mais forem capazes de lidar com as suas
próprias frustrações, conseguirem ser resilientes e otimistas, mais os filhos
vão se desenvolver tendo por base estas formas de funcionamento psicológico.
Por
este meio vão aprender, já em adultos, que amar de forma saudável implica
maturidade, auto-estima, flexibilidade, tolerância, capacidade de
co-construção, noção de que é necessário tempo para criar intimidade emocional e,
principalmente, empatia para respeitar o espaço e a identidade do outro.
Para
amar é preciso coragem e auto-estima e não existe amor sem reciprocidade. O
amor real é, sempre, reciproco. Resulta de um dar e receber que é espontâneo e
natural, em duas pessoas inteiras que se comprometem em construir além dos seus
estados de espirito. Como é óbvio não é possível estar em permanente modo
de enamoramento e paixão, vão existir períodos de cansaço, zanga, exaustão, por
vários motivos, mas a ligação emocional, essencialmente boa mantem-se, por isso
a relação continua com base no cuidado e na procura conjunta de evoluir com a
relação através da criatividade.
Por
vezes, as pessoas só concebem um amor tóxico que apenas leva ao sofrimento, na
medida em que lhes é familiar, está no seu modelo de vinculação insegura é o
que estão habituados.
Como
pode uma pessoa com vinculação insegura e baixa-auto-estima desenvolver relações
gratificantes e positivas? Isso depende da sua capacidade de análise,
resiliência, sendo que a melhor forma de trabalhar esse autoconhecimento,
essencial para quebrar padrões e promover a mudança, é através da psicoterapia,
de relações promotoras de amor e de aceitação.
Canto da Psicologia
Mafalda Leite Borges
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