quinta-feira, 2 de maio de 2019

Amar é um Processo de Aprendizagem...







A maioria da procura, para o apoio psicoterapêutico, parte devido a relações disfuncionais que causaram sofrimento nos pacientes. Às vezes questionamos porque, para uns amar é simples e fluido, apesar de alguns desafios e, para outros, é um susto, uma preocupação, uma confusão, uma incoerência? Assim temos pessoas capazes de crescer e evoluir nas relações e, outras, que vão somando desilusões que são difíceis de resolver.

O amor saudável aprende-se desde pequenino, tal como se aprende a falar, a andar e, também, vamos aprendendo, o que é isto de estar numa relação com os outros especiais, na nossa vida. O que é que isso implica? Como é que os nossos pais nos colocaram na relação? A forma como, os mais significativos, pensaram em nós e como nos trataram, vai influenciar todos os relacionamentos futuros, assim como, a saúde psicológica de cada um.
Ao longo do desenvolvimento da criança organiza-se um processo mental sobre o que esperar dos comportamentos dos mais familiares, normalmente mãe, pai, avós, denomina-se de vinculação, sentido de pertença e de segurança. As figuras centrais que estão maioritariamente com a criança, principalmente nos primeiros três anos de vida, vão criar dinâmicas relacionais que irão moldar o sentido de identidade, segurança e de amor-próprio na criança, bem como no futuro adulto.

As expetativas que os pais desenvolvem, mesmo antes do nascimento do bebe, vão criar um ninho psicológico onde o mesmo se irá adaptar. A criança procura sempre se adequar às expetativas dos pais, quer sejam, positivas, negativas, conscientes, inconscientes. Por exemplo, se os pais assumirem a crença de que as crianças são difíceis e que o filho\a é difícil e tem mau feitio, o mais certo é essa criança desenvolver essas mesmas características. Quanto mais vincado, consistente e frequente for o sentimento\crença mais a criança irá assumir comportamentos semelhantes que se coadunam com o que esperam dela, isto porque, os pais são como um espelho onde o bebe\criança se pode ver refletido e, assim, construir a sua própria identidade. O que as figuras de vinculação sentem que são (essencialmente boas pessoas, imperfeitos, mas conscientes, resilientes e positivos) é o que vão transmitir tendo consciência ou não aos seus filhos, sem pensar muito no assunto. Assim sendo quando as figuras centrais de vinculação estão bem nutridas, com uma boa auto-estima, tem auto conhecimento, consciência das suas vulnerabilidades e trabalham no sentido de promoverem a melhor parentalidade que é possível, normalmente irão desenvolver crianças mais inteligentes emocionais e mais flexíveis, no que concerne a adaptabilidade emocional e a regulação da frustração. Não se trata de perfeição, pais perfeitos, trata-se de capacidade de analise e procura de dar o nosso melhor nas relações, mesmo sabendo que vão existir falhas e momentos menos bons. Neste sentido quanto mais forem capazes de lidar com as suas próprias frustrações, conseguirem ser resilientes e otimistas, mais os filhos vão se desenvolver tendo por base estas formas de funcionamento psicológico.

Por este meio vão aprender, já em adultos, que amar de forma saudável implica maturidade, auto-estima, flexibilidade, tolerância, capacidade de co-construção, noção de que é necessário tempo para criar intimidade emocional e, principalmente, empatia para respeitar o espaço e a identidade do outro.

Para amar é preciso coragem e auto-estima e não existe amor sem reciprocidade. O amor real é, sempre, reciproco. Resulta de um dar e receber que é espontâneo e natural, em duas pessoas inteiras que se comprometem em construir além dos seus estados de espirito. Como é óbvio não é possível estar em permanente modo de enamoramento e paixão, vão existir períodos de cansaço, zanga, exaustão, por vários motivos, mas a ligação emocional, essencialmente boa mantem-se, por isso a relação continua com base no cuidado e na procura conjunta de evoluir com a relação através da criatividade.

Por vezes, as pessoas só concebem um amor tóxico que apenas leva ao sofrimento, na medida em que lhes é familiar, está no seu modelo de vinculação insegura é o que estão habituados.
Como pode uma pessoa com vinculação insegura e baixa-auto-estima desenvolver relações gratificantes e positivas? Isso depende da sua capacidade de análise, resiliência, sendo que a melhor forma de trabalhar esse autoconhecimento, essencial para quebrar padrões e promover a mudança, é através da psicoterapia, de relações promotoras de amor e de aceitação.



Canto da Psicologia
Mafalda Leite Borges


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