quinta-feira, 11 de julho de 2019

No jogo de “quem tem razão?” todos são derrotados ...






Ter ou não ter razão... Inúmeras vezes, parece ser esta a ideia principal que é jogada nas relações humanas. Assim se configura um jogo de natureza competitiva, ou seja, com aparentes vencedores e vencidos. Alguém deverá ter razão sobre um qualquer assunto e, quem não pensar dessa forma, estará errado. Tenta-se, assim, submeter o outro a uma determinada opinião, seja ela qual for. O opressor será o vencedor e o oprimido será o derrotado. Mas será mesmo assim? Neste modo relacional haverá mesmo algum vencedor ou só derrotados?
O suposto vencedor de uma discussão, com uma opinião muito limitada – porque excluiu a opinião de, pelo menos, um outro – será, obviamente, um pobre e ilusório vencedor, ou seja, mais um real derrotado.

Por conseguinte, um sinal que será muito importante observar com atenção é o julgamento pernicioso e errado de que alguém terá acedido à verdade absoluta, num qualquer debate/discussão, porque, nesses momentos, se verificará um fechamento ao mundo relacional e, com isso, se comprometerá o desenvolvimento que a atitude curiosa à novidade do outro poderia trazer. Neste sentido, para que a dinâmica relacional não conduza, de forma mais ou menos consciente, a uma sensação de derrota de todos os envolvidos, a humildade não será apenas uma expressão simpática face aos outros; será, sobretudo, uma escolha inteligente: “Só sei que nada sei” (como disse o filósofo Sócrates); sim, porque, dessa forma, abre-se, de forma abrangente, a mente ao desconhecido… Talvez não seja possível lá ficar muito tempo, dado o medo típico face ao desconhecido e a consequente tendência humana à fixação em alguma ideia mais habitual, mas o processo de aceder, mesmo que por breves momentos, ao campo de inúmeras possibilidades e perspectivas é o que parece (não pretendo ter um pensamento rígido) expandir, realmente, a mente.

No entanto, importa estar ciente de que as boas relações – aquelas que são benéficas para todos os envolvidos – não deverão radicar propriamente na mera tolerância, mais ou menos condescendente, às perspectivas dos outros, mas sim no apreciar e valorizar as múltiplas interpretações sobre um determinado fenómeno, as quais, naturalmente, serão sempre, pelo menos, um pouco diferentes entre si. Mas quem ganhará com isso? Nestes casos, serão todos os intervenientes, porque, nesses processos, serão tecidos elos de ligação entre as diversas visões restritas, resultando em expansões de consciência, de conhecimentos e de qualidade das próprias relações pessoais – dada a atitude de aceitação e genuíno interesse pelas opiniões de todos.

Na realidade, não será a plena concordância a base para uma autêntica e boa relação humana, na medida em que a discordância, ainda que seja percebida como pequena, é inevitável: cada pessoa pensa, sente e age de uma forma única e em sistemático processo, em maior ou menor grau, de mudança. Tendo isto como premissa, o relevante, mesmo, será abraçar a diversidade humana – numa atitude de real respeito e valorização das vivências de cada pessoa – mediante o reconhecimento que tais ligações, entre pessoas inevitavelmente diferentes, enriquecem as experiências humanas e facilitam um contacto relacional afectivamente próximo e profundo.

Naturalmente, é neste enquadramento de uma boa relação que se situa a experiência psicoterapêutica, através da qual o(a) psicoterapeuta, numa atitude benévola e de real cuidado, coíbe-se de fazer julgamentos e juízos críticos sobre as vivências do(a) paciente. Tal postura psicoterapêutica aceitante e acolhedora facilitará, assim, no decorrer da relação terapêutica, um processo de abertura à intersubjectividade, numa partilha de perspectivas promotora de uma compreensão expandida sobre os mundos interno e externo de cada paciente. 








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