Durante os meses de verão, é comum que
se tirem férias. Este é, aliás, um dos momentos mais ansiados por todos, com
promessas de dias leves, sem as preocupações do quotidiano e sem a rotina
tantas vezes incomoda. Mas e quando essas férias entram no processo psicoterapêutico? O que significarão as férias do terapeuta para quem se
habitua a ter o seu momento, semana após semana, no mesmo horário, no mesmo
sítio, com aquela constância tranquilizadora?
É frequente que quem está num processo desta natureza se questione se o seu
terapeuta pensa em si fora do contexto da consulta, se se lembra da sua
história, se se preocupa durante as suas ausências ou até faltas. Naturalmente
que as férias, momento em que o terapeuta opta por se afastar, poderão
despertar em algumas pessoas sentimentos de abandono, de se sentirem preteridos
por momentos de lazer e passeios à beira-mar. A realidade é que estes momentos
de afastamento, essenciais para qualquer pessoa independentemente da sua área
profissional, não significam que o terapeuta se esqueça ou não se importe com
quem acompanha – como julgamos ser óbvio, mas que mesmo assim fazemos questão
que seja evidente! Durante as férias, a maioria dos terapeutas estarão até disponíveis
para atender o telefone, caso aconteça algo em que seja essencial serem
contactados. Na realidade, dado o carácter natural deste afastamento, este pode
e deve ser pensado com carinho e respeito pelo par terapêutico, com as suas
repercussões a terem de ser desconstruídas em contexto de consulta, fazendo com
que um momento potencialmente perturbador da relação seja, afinal, uma
oportunidade para melhor elaboração de questões de fundo.
Nos momentos que antecedem o início das férias, assim como nos que marcam o
regresso à rotina, verificam-se por vezes alterações à constância da relação,
ao tom emocional que caracteriza as sessões, à intensidade das questões
levantadas, o que terá de ser necessariamente contextualizado. Uma falta num
momento aparentemente incaracterístico poderá ter um determinado valor, ao
passo que uma falta na última sessão antes das férias do terapeuta poderá ser
pensada de forma mais específica: quão difícil é para mim ficar sem poder ver
esta pessoa que normalmente está sempre disponível? Como me sentirei durante as
próximas semanas, e o que poderei fazer se me sentir demasiado angustiado? Em
que pontos mais sensíveis da minha história pessoal é que este acontecimento
irá tocar? É importante que tudo isto seja pensado: se não se elaborar, então
pode contaminar.
Inconscientemente, esta separação temporária poderá ter um impacto de tal
forma no sentir de quem vê o seu terapeuta a afastar-se que, em última análise,
poderá até levar a desistências do processo. Não sendo isto de todo desejável,
há que pensar em conjunto o que isto significa, como afeta a estabilidade de
cada um e, espera-se, alcançar novos entendimentos sobre o nosso mundo interno.
Porque as relações são mesmo assim: uma sucessão de aproximações e
afastamentos, em que as pessoas estão ligadas por fortes laços invisíveis, que
não se veem com os olhos, mas que se sentem com o coração. Coração esse que,
mesmo de férias, não deixa de transportar quem está cá dentro.
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