quinta-feira, 20 de junho de 2013




No Reino dos Porquês!
A Comunicação entre Pais e Filhos

Certamente, já lhe ocorreu ficar sem resposta para as inventivas questões que o seu filho é capaz de colocar. Dotados de uma criatividade e de um poder de interrogação inesgotável, as crianças são incrivelmente capazes de levantar as mais inusitadas perguntas, transformando a assertividade dos mais velhos num verdadeiro rol de embaraços!
Com efeito, é na descoberta que a criança faz de si e do mundo que se abre espaço à dúvida – componente integrante do processo de crescimento, representativa da capacidade de pensar e, por isso, prenúncio de saúde mental. Todavia, do lado dos pais, a chegada ao reino dos porquês é, muitas vezes, ladeada por uma esmagadora incerteza do que dizer, de como explicar e de se ser capaz. Neste palmear de terra, gera-se a dúvida sobre a dúvida, emergindo barreiras à comunicação, que restringem o entendimento e, assim, a própria dimensão relacional entre pais e filhos.

Efectivamente, é com a mestria de que são capazes que os pais se vão desenvencilhando, à medida que os filhos lançam tais desafios. Mas… Se há temáticas que são particularmente difíceis, falar sobre sexualidade será uma delas. Tema que acompanha todo o crescimento, a sexualidade constitui uma importante componente do desenvolvimento da criança e que, por isso, impõe ser devolvida sob a forma de resposta, sempre que necessário.

Importa lembrar que a pergunta em si mesmo denuncia uma inquietação, pelo que exige que lhe seja devolvido um sentido, um entendimento. Essa será a tarefa mais importante. Por outro lado, a criança fica, muitas vezes, satisfeita com uma resposta sucinta, pelo que o que é realmente necessário é compreender o que é que ela pretende exatamente saber, respondendo-lhe de forma clara e precisa. Quando isto não é possível no imediato e a mãe ou o pai não se sentem capazes de responder, é preferível explicar à criança que irão pensar sobre o assunto e abordá-lo novamente mais tarde. O fundamental é legitimar o sentir da criança e utilizar a verdade na relação.

Assim deverá ser quando falamos sobre sexualidade. Desde que o tema seja suscitado, importa que os pais pensem com os filhos sobre o mesmo e que lhes permitam o conhecimento sobre si e sobre o que os rodeia, clarificando e, necessariamente, tranquilizando a angústia que a dúvida encerra. Contudo, não queremos com isto dizer que a criança deve ser exposta de forma abrupta à realidade e que poderá encontrar formas de contornar a informação que lhe parecerá necessária e suficiente. O que é realmente importante é não tanto o conteúdo que é transmitido, mas a forma não-verbal como responde – a segurança, a tranquilidade, o próprio tom de voz, são elementos que a criança captará.
Deixamos, em jeito de dica, algumas questões que, porventura, já lhe terão colocado ou, quem sabe, irão colocar... Pense connosco:

- “Como é que eu nasci?”

Regra geral, todas as crianças questionam donde é que vêm, enquanto dúvida universal. Devolver a ideia de que a criança nasceu a partir dos pais e, se necessário, recorrer à célebre metáfora da semente que o pai deixou na mãe será suficiente e apaziguador. Quando mais crescidos, poderá ocorrer que a criança exija outro tipo de informação, e aí é importante compreender a pertinência de explicar o processo de concepção à criança/adolescente, desde que de uma forma contida e neutra.

- “Se estava na tua barriga, como é que saí?”

Bom, sabemos que umas perguntas levam, recorrentemente, a outras, sendo que da primeira poderá, em determinadas ocasiões, surgir esta última. Explicar que a criança nasce através da vagina não é problemático, sendo, aliás, aconselhável. Iludir a criança e utilizar vocabulário que substituía aquilo que é pelo que não é torna-se confusional.

- “Porque é que sou diferente da minha irmã?”

A partir dos dois anos, aproximadamente, as crianças começam a compreender as diferenças, a partir das descobertas que encetam a partir do seu próprio corpo. Neste contexto, impõe-se a questão da diferença, sobretudo no que respeita ao feminino e ao masculino. Nesse sentido, devolver à criança que de facto é um menino e, como tal, é como os outros meninos e que a irmã é como as meninas é quanto basta para que a criança perceba que, efectivamente, existe uma diferença.

O Canto da Psicologia,


Dr.ª Joana Alves Ferreira

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