quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Enurese - O xixi que alivia...






Enurese: uma perspetiva além da fisiologia


A enurese infantil é um distúrbio que se caracteriza pela perda involuntária de urina, numa idade em que a criança já deveria ter obtido o controlo dos esfíncteres. A manifestação da enurese ocorre, sobretudo, durante a noite, podendo variar na frequência e na intensidade e amplificando-se quando a criança está exposta a situações de tensão. 
A origem do quadro enurético pode estar relacionado com diversas condições, sejam elas de cariz orgânico-fisiológico ou psicológico. Com efeito, a enurese pode ser um sintoma resultante de diversos fatores predisponentes, de natureza social, psicológica e anatómica, pelo que o seu diagnostico implica, sempre, um rastreio de todos os possíveis fatores desencadeadores. 

Quando nos reportarmos a situações de cariz emocional, as quais surgem frequentemente na clínica, verificamos que este quadro parece emergir como uma expressão indireta da angústia vivenciada pela criança, constituindo-se, não raras vezes, como uma forma de manifestar a sua necessidade de auxílio ou como forma de atrair a atenção dos pais, através deste sintoma. Situações como o nascimento de um irmão ou o divórcio dos pais, são exemplos de fatores que podem fazer despoletar este quadro, no qual a ansiedade e a tensão geradas acabam por ser “descarregadas” pela criança durante o sono.

Trata-se de uma problemática que afeta cerca de 15% das crianças com 5 anos, sendo que, de acordo com um estudo da National Sleep Foundation, cerca de 21% das crianças em idade pré-escolar faz chichi na cama, pelo menos, uma vez por semana. A enurese noturna apresenta, pois, um impacto evidente no comportamento e bem-estar da criança ou do adolescente, sendo simultaneamente uma fonte de stress para a família. Entre as consequências negativas da enurese, encontram-se a baixa auto-estima, o isolamento, e o elevado stress relacionado ao medo de ser ridicularizado pelo grupo de pares. Este quadro acarreta o comprometimento da socialização, pelo que é importante que os pais entendam o caráter involuntário da doença e sejam compreensivos com as crianças, procurando ajuda, nos casos em que este sintoma perdure. 

A psicoterapia tem-se revelado eficaz no trabalho com estas crianças e com as famílias, permitindo uma melhoria do sintoma, mas, sobretudo, dos efeitos colaterais que esta condição implica para todos. 

Entretanto e porque cabe aos pais ajudar a criança a ultrapassar a situação e não transformar estes episódios numa experiência traumatizante, deixamos-lhe por aqui algumas sugestões:
  • Expliquem ao seu filho que há muitas crianças da idade dele que também passam pelo mesmo problema e que conseguem ultrapassá-lo.
  • Limitem a ingestão de líquidos a partir do final da tarde.
  • Deitem a criança sempre à mesma hora e estabeleçam uma rotina que inclua a ida à casa de banho antes de se deitar.
  • Criem com ele e de acordo com as suas rotinas um sistema que o possa ajudar a ter menos momentos "molhados" ;
  • Reconhecer de forma consistente o sucesso de uma noite seca e os convenientes que traz para todos, sempre que isso acontece; afinal de contas ele foi capaz.
  • Que o seu filho participe sempre na logística inerente a estes episódios, por exemplo, que seja ele a tirar a roupa da cama e a colocá-la na máquina de lavar; afinal de contas  o problema é seu e há um trabalho a fazer  para o vencer.



O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira



Sem comentários:

Enviar um comentário