quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Quando o Impossível Acontece - Stress pós traumático








Todos os dias somos bombardeados com notícias que nos contam sobre o “impossível” sobre o que consideramos que nunca pode acontecer, meninas nigerianas, estudantes, sequestradas pelos terroristas, que lançou o movimento internacional #Bringbackourgirls, catástrofes naturais, guerra, acidentes graves nos transportes públicos, criança que cai num poço e fica desaparecida, são tudo eventos traumatizantes que deixam consequências quer na vítima direta, quer nos familiares próximos, cujos efeitos psíquicos podem ser avassaladores. O nome científico para denominar a perturbação que se pode desenvolver após a catástrofe é o Stress Pós Traumático, como o próprio nome indica consiste, num trauma psíquico provocado por um evento externo que não é previsível, nem controlado, dado fator de susto que provoca a experiência intensa e que impede a capacidade de equilíbrio emocional, face ao medo, desamparo, impotência e angústia da situação. A estrutura psíquica do individuo fica assim danificada, provocando sintomas de desequilíbrio emocional frequentes, nomeadamente, ansiedade permanente, perturbações do sono, com pesadelos ou mesmo flashbacks do acontecimento, pensamentos intrusivos, estado de híper-vigilância, constante alerta de que algo imprevisível pode ocorrer, taquicardíacas, tremores, incapacidade de concentração, psicossomatizações.


A Associação Americana de Psiquiatria, define o conceito trauma como uma experiência individual direta de um evento que envolva morte, ameaça de morte ou ferimento grave, ou outra ameaça à integridade física; ou observar um acontecimento de morte, ferimento grave ou ameaça à integridade de outra pessoa; ou ter conhecimento de uma morte violenta ou inesperada, ferimento grave ou ameaça de morte experienciada por um familiar ou amigo próximo.
As raparigas adolescentes que foram sequestradas em Abril de 2014, pelos terroristas na Nigéria, ainda continuam, pelo menos 112 desaparecidas neste momento, em Janeiro de 2019. O trauma de algumas que foram resgatadas é incalculável sendo que trouxe consequências na vida das mesmas, como por exemplo, algumas deixaram de estudar, uma vez que foram sequestradas na escola. O stress que provoca estar no mesmo contexto do acontecimento traumático, leva as vitima a evitarem as fontes associadas ao trauma.

  


O ser humano naturalmente procura uma homeostase, um equilíbrio bio-emocional para poder funcionar no seu dia-a-dia. O impossível acontece quando um evento imprevisível sucede e retira toda a confiança e tranquilidade na vida e no seu natural curso, a capacidade do ser humano resistir e conseguir regular as suas emoções, de modo a criar significado para a experiência, vai depender da resiliência de cada sujeito, assim como, de fatores como organização psíquica, personalidade e experiências de vida. Como tal esta regulação e superação tem um caracter subjetivo, embora o apoio psicoterapêutico, seja fundamental para apoiar a vítima em todo este processo. Perante a ocorrência de um acontecimento traumático o sujeito reorganiza uma nova forma de estar e de ver o mundo que o rodeia, o que pode gerar uma mudança significativa nos seus padrões de funcionamento psíquico. Normalmente, sentimos o mundo como um local seguro e relativamente controlável, considerando as mais diversas ações e tarefas que desempenhamos durante o quotidiano, como asseguradas por nós e, por isso, dentro do nosso controlo, pelo que decidimos o que queremos e não queremos fazer, aquilo que pensamos e recordamos. No entanto, na sequência de um acontecimento traumático existe um reajuste na nossa maneira de ver o mundo, que leva o seu tempo a resolver.  
Assim sendo uma construção de personalidade mais rígida ou inflexível, poderá dificultar este processo de reajustamento do sujeito, dado a necessidade implícita de controlo, por outro lado uma personalidade mais plástica e adaptativa terá, á partida, outros recursos para que com o passar do tempo, possa superar o evento traumatizante.


Drª Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia



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