quinta-feira, 11 de abril de 2019

TERAPIA FAMILIAR - Quem é o bode expiatório?





Afamília é uma unidade fundamental composta por pessoas que estabelecem entre si profundas ligações afetivas, numa teia complexa que se estabelece ao longo da vida, unindo várias gerações. 

Para esta dinâmica relacional, convergem um conjunto de fenómenos que são, muitas vezes, de natureza inconsciente, e que interferem com todos os seus elementos. Com efeito, a família é um grupo permeado por diferentes relações, sentimentos e pensamentos, que podem ou não ser elaborados ao longo da relação familiar.

Na intervenção terapêutica com famílias, verificamos que existe frequentemente um elemento que funciona como uma espécie de porta-voz familiar, como se se tratasse de um “bode expiatório” para o grupo familiar, na medida em que são depositados em si todos os conteúdos indesejados pelos outros membros da família. Curiosamente, o que habitualmente leva uma família a procurar terapia são precisamente os sintomas deste membro. Como se aquele fosse o paciente identificado por todos, para o qual é direcionado o rótulo de ser o elemento problemático. 

Mas, numa leitura psicanalítica das famílias, o que isto verdadeiramente significa, é que estes sintomas poderão ser a expressão de uma desorganização familiar mais ampla ou, noutros casos, que os sintomas apresentados pelo porta-voz da família, ainda que possam ter a sua origem em circunstâncias da vida particular do sujeito, foram apoiados e reforçados pelo sistema familiar. Por exemplo, um adolescente que age a agressividade que parece permear a relação entre os pais de forma silenciosa, atuando a violência que permeia os laços familiares e trazendo o sintoma para o palco das suas atuações ou, por outro, uma filha que decide regride a uma posição mais dependente dos pais após uma ruptura amorosa e que, inconscientemente, os pais (e/ou a restante família) reforçam, porque as questões de dependência são uma problemática inerente àquela família.

Quer isto dizer que manter um elemento refém deste legado representa uma tentativa de preservar a homeostase do grupo, sendo, frequentemente, essa a expectativa no pedido que é feito quando se procura terapia familiar – que, de algum modo, o terapeuta se foque no paciente identificado, trabalhando para mudá-lo. Todavia, na leitura do terapeuta familiar, este elemento será apenas o portador do problema: aquele que traz a problemática familiar pelas mãos, para que esta possa ser escutada e pensada. Tem, por isso, um lugar importante, na medida em que é através do seu sintoma que é possível escutar os aspetos inconscientes da família.

Assim, a Terapia Familiar constitui-se como um espaço de diálogo, que se constrói e desenvolve no tempo, envolvendo todos os membros, numa tentativa de tornar consciente todos os aspectos disfuncionais da trama relacional entre os seus elementos, procurando romper e transformar estes legados.


Drª Joana Alves Ferreira








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