quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Devias fazer psicoterapia! Do podcast ao sofá da terapia…

 

Esta frase anda a tornar-se familiar por estes tempos, não acha? 

Possivelmente por tudo o que andamos a viver ultimamente, mas por aqui, em alturas de rentrée, este eco torna-se sempre mais evidente. É nesta época do ano que muitos processos psicoterapêuticos têm início, mas também muitos outros  ficam pelo talvez. 

Quem já fez ou faz psicoterapia tem por hábito recomendá-la a amigos ou familiares e nem sempre consegue entender os motivos pelos quais existe alguma resistência a dar o primeiro passo. 

“Não vou falar com um estranho sobre mim”
“Eu consigo resolver sozinho”
“Também não é assim tão grave”
“Um conhecido meu foi e não adiantou nada”

Assim se vão expressando alguns receios, naturais e bastante pertinentes, mas a verdade é que não são mais do que o reflexo de resistências internas que todos temos. O funcionamento psicológico é muito eficiente e por isso tenta, algumas vezes com resultado inverso, consumir pouca energia emocional e garantir o menor esforço possível. Por outro lado, porque queremos ser amados e tememos a rejeição do outro, fomo-nos habituando a calar o que pensamos e sentimos, para sermos facilmente aceites e depois, amados. Ouvir o que temos a dizer sobre nós não é tarefa fácil…

Vou à psicoterapia para ouvir o que eu tenho a dizer!

Quando ouvi esta frase, fiquei indagada e ao mesmo tempo a pensar no quanto é difícil ouvir o que temos a dizer sobre nós. Mas não estamos na Era em que os podcasts assumiram o lugar de protagonista nos conteúdos digitais e que hoje nos assaltam minuto a minuto? 
Bom, é certo que os nossos conteúdos internos nem sempre são apelativos, mas se lhe dermos a atenção devida talvez se encontrem agradáveis surpresas. 
Quando ouvimos um podcast, estamos mesmo a ouvi-lo? Tenho algumas dúvidas… Na maioria das vezes, o podcast é conciliado com outras tantas tarefas em simultâneo, depois paramos, aceleramos e saltamos algumas partes do mesmo. É um conteúdo que faz parte da nossa coleção de materiais digitais, que cada vez mais vão tendo como função ajudar a suportar silêncios e se têm tornado fortes aliados no preenchimento de vazios. Ouvir os nossos silêncios não é tarefa fácil… 

No sofá da terapia criam-se podcasts?

Voltando ao sofá da terapia, percebemos que aqui, os podcasts se desenham noutra forma e se moldam noutra ordem. Na ordem do falar, do ouvir e do sentir. Requerem atenção exclusiva! Persistência, paciência e coragem! 
Se nos sentimos ansiosos, cansados, deprimidos ou irritados, a psicoterapia é sempre uma escolha acertada, por mais difícil que seja declará-la. A investigação científica comprova a sua eficácia e os nossos pacientes também. Perante a dor e o sofrimento, a possibilidade de compreensão das emoções, permite quebrar o ciclo de repetição e a mudança ocorre naturalmente, aliviando os sintomas. O pedido de ajuda psicoterapêutica vem, na maioria das vezes, associado a angústia e esta é uma temática na qual os psicólogos se encontram atentos desde o início, dando uma resposta adequada e integrando a queixa. Eles são especialistas na arte de perceber e aceitar o outro, são empáticos e disponíveis. Quem já fez psicoterapia reconhece estes fatores e é por isso que a sugere com tanta veemência. Mas também sabe que o compromisso com a psicoterapia deve ser real para ter um resultado transformador e que não é suficiente marcar a consulta e ter um psicólogo a acompanhá-lo todas as semanas (como nos ginásios…, não basta fazer a inscrição para obter resultados).

Talvez no sofá da terapia seja possível criar um podcast mais atrativo e interessante, onde a temática principal e de fundo é a nossa história, relatada em vários episódios, uns mais emocionantes do que outros. Criar um podcast sobre nós alimenta a capacidade de estarmos connosco próprios, independentemente de estarmos sós ou acompanhados. Permite olhar o que somos, ouvir o que temos a dizer e sentir o que sentimos.

Afinal, se não nos ouvimos, o que andamos a ouvir?

 

 

 

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