Quase toda a gente
gosta de bebés, suscitam ternura e não é por acaso, foram “desenhados” com
aquelas formas redondas para atrair,
para que possam ser cuidados, visto a sua enorme dependência de outra pessoa
para a sua sobrevivência. Dizia o pediatra e psicanalista Donald Winnicott “there's
not such a thing as a baby” (“o bebé não existe”), referindo-se exactamente
à impossibilidade de um bebé viver sozinho, existindo sim a díade mãe-bebé (ou
cuidador-bebé). Contudo este olhar para o bebé, este conhecimento que fomos
adquirindo acerca da pessoa humana na sua natureza mais precoce é muito, muito
recente e ainda existem muitos mitos e falta de conhecimento. Ainda há poucos
anos atrás se faziam intervenções médicas, e algumas cirurgias, a bebés sem
qualquer tipo de anestesia porque se acreditava que os bebés recém-nascidos não
sentiam dor... Mesmo a palavra “bebé” é
relativamente recente na história da humanidade, segundo Delassus[1] é um
vocábulo retirado da lingua inglesa (baby) e pode ser datado de meados
do século XIX, mais precisamente de 1842. A palavra infância já existe há mais
tempo, oriunda do latim infans que significa aquele que não fala, que
não teve acesso à linguagem, embora possamos ver também aqui uma certa conotação
negativa no sentido em que é excluido da comunidade humana dos seres que falam.
Felizmente, os bebés em particular e a infância no geral, começaram a despertar o interesse dos investigadores e o
bebé começou a ter um lugar próprio e as suas capacidades poderam ser vistas. O
estudo dos bebés atravessa várias disciplinas entre elas, a biologia, a
medicina, a antropologia, a pedagogia e a
psicologia teve (e tem tido) também um grande contributo, tendo alguns cientistas
começado por observar sistematicamente os seus próprios filhos, abrindo assim
portas para novas observações. Pode então surgir uma cultura da infância, muito
embora este conhecimento fique muitas vezes fechado em livros e circuitos
académicos, dando azo a que persistam alguns mitos e não prevaleça uma
verdadeira cultura da infância. A título de curiosidade colocarei aqui algumas
perguntas e respostas, que por vezes surgem:
-
Quanto vêem os bebés?
Poucos dias após o nascimento, o
recém-nascido é capaz de ver de forma nítida e focada qualquer objecto a uma
distância entre os 20 e os 50cm de distância. Quando olha para longe vê uma
mancha difusa, uma vez que ainda não tem um controlo bi-ocular e é por isso que
por vezes entortam os olhos. Contudo, a partir das 6 semanas já começam a conseguir
concentrar-se em distâncias mais longas. E isto não é por acaso, é um
“mecanismo anti-stress”! Foca-se no que se encontra perto, e que pode ser muito
importante, a mãe, o alimento, etc, e evita o que está longe do seu corpo, que
não tem importância para ele e que pode ser ainda muito confuso. Sabe-se ainda
que os bebés preferem formas curvas, são sensíveis a padrões e gostam de
objectos grandes e iluminados.
-
Os bebés sonham?
Sim, sonham só não sabemos com o
quê! Têm até surgido investigações que sugerem que sonham já desde a vida
uterina, na barriga da mãe. Sabe-se que sonham através do tipo de sono, o
REM, onde os olhos se movem por detrás
das pálpebras fechadas; este é um sono mais leve e os bebés fazem-no em cerca
do dobro do tempo dos adultos.
-
Os bebés têm consciência de si
próprios?
Esta questão é mais difícil de
responder mas tudo leva a crer que o bebé sabe diferenciar-se: sente os limites
do seu próprio corpo, situa-se nas relações com os outros (eu social) e tem um
elementar conhecimento de si. Alguns estudos que utilizam a interação e
imitação precoce, o reflexo em espelhos ou a visualização de vídeos, têm vindo
a demonstrar formas elementares de consciência de si, contudo o conhecimento
acerca de si próprio pressupõe a interação com o meio ambiente e é um processo
longo que acompanha o desenvolvimento. É então um conhecimento que nos
acompanha a vida toda e será, aliás, um dos propósitos da psicoterapia: conhece-te a ti mesmo.
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