Que estranho é o ser humano, aquilo de que mais necessita é aquilo de que mais se afasta. Anseia tão desesperadamente por paz mas cedo se encontra com a guerra.
A guerra, esta, é implacável e impiedosa, assume
vários rostos e aparece sem pedir autorização. Pode ser interna, manifestando-se no barulho dos pensamentos,
no alvoroço dos sentimentos, ou
externa, apresentando-se no desfilar das armas, dos tanques, das bombas, ou na
turbulência da procura da razão. Seja como for deixa um rasto de dor, inquietação e destruição.
Que estranho é o ser humano. Procurará mesmo a paz? Então porque trás para sua casa a agitação? É muitas vezes no seio
das famílias, onde as pessoas se amam, que a guerra
aparece de rompante atormentando, ferindo, magoando… Muito frequentemente mães choram, pais
sentem-se atormentados e as crianças… tão assustadas…
Diferentes povos
atacam-se, milhares de pessoas, para tentar sobreviver, enfrentam condições desumanas… A solidariedade, muitas
vezes, escasseia…
Que desígnio é este a que esta nossa
espécie parece não conseguir escapar?
O homem luta para ter
poder, para ter dinheiro, para ter desculpa e até para ter amor. Por muito pouco se perde a noção de que, do outro lado, está também um ser humano. Ver
alguém a sofrer no telejornal torna-se habitual.
Parece existir uma espécie de desumanização do humano que a todos deve assustar. Como se algumas pessoas
fossem consideradas indignas de serem protegidas pelos direitos inerentes à nossa espécie. Como se fossem diferentes de “nós”.
O ser humano bem
procura a tranquilidade… mas tarda em conseguir
encontrá-la. Tem tudo o que precisa para viver em paz… mas não o consegue fazer.
Será a guerra o estado natural do humano? Será o homem um ser sem remédio? Que não consegue suportar a felicidade de viver em paz? Que não consegue acalmar o impulso de ter de triunfar, de explorar o
outro para enriquecer?
Numa sessão de terapia uma criança uma vez diz, no final
de uma brincadeira em que dois exército de soldados
acabaram de travar uma grande batalha “Agora temos que dar
este remédio a todos os soldados… neste frasquinho… O remédio tem concentrado de
amizade e cheirinho de amor. Só assim eles vão viver.”
Aos 8 anos esta criança percebe qual é o remédio… Afeto, respeito,
capacidade de empatizar, amor…
Será o ser humano capaz disso? Acredito que sim, que o afeto prevaleça e que unidos possamos ir alcançando a tão desejada paz. Por
isso tantos também se debatem, se
mobilizam, se tentam fazer ouvir. Quando menos se espera aparece alguém que também quer ajudar. É nesses que reside a esperança do ser humano. Nesses
que esperam que a solidariedade seja contagiosa e a paz possa prevalecer e
resistir. Por isso há que aproveitar todas as
oportunidades para se comemorar a paz.
“Sinto a falta de um mundo onde a paz seja o normal, onde a excepção seja a guerra…”
Drª Dina Cardoso
O Canto da Psicologia
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