“De pequenino se torce o pepino”
No mês em que as crianças regressam ou iniciam os seus
ciclos escolares podemos reflectir sobre as seguintes questões: Como as
crianças reagem à entrada na creche ou no pré-escolar pela primeira vez? Porque
a saúde mental começa no bebé qual a importância dos primeiros três anos de
vida na construção da identidade?
A nossa sociedade e, principalmente, a portuguesa não privilegia
a saúde do bebé. As mães apenas têm quatro meses de baixa de maternidade e a
figura paterna pode ter um mês, neste contexto, colocam-se os bebés de 5 ou 6
meses em creches, em ambientes totalmente novos sem a relação privilegiada tão
fundamental para a sua saúde.
Esta sociedade que ignora completamente a primeira infância,
apesar das inúmeras e exaustivas investigações científicas que sublinham a importância,
desta fase de desenvolvimento, para saúde quer física quer mental do futuro
adulto. Sabemos que nos países ditos “mais desenvolvidos” no Norte da Europa os
pais podem ter direito a 3 anos de baixa, de forma a poderem dar a atenção
necessária e a qualidade relacional ao seu bebé. Contudo em Portugal a
realidade é bem diferente pelo que as consequências têm vindo a notar-se, cada
vez mais se medicam as crianças e se diagnosticam com atraso de
desenvolvimento, hiperactividade e deficit de atenção.
À medida que a sociedade avança mais se desumaniza, os bebés
não têm direito a ficar bebés, as crianças têm de crescer rapidamente e, depois,
transformam-se em adultos incompletos, com falhas no desenvolvimento
psicoafectivo, de difícil acompanhamento psicoterapêutico. A prevenção é, assim,
totalmente ignorada e consequentemente multiplicam-se as problemáticas na saúde
mental. Segundo dados da OMS estima-se que em 2030 a Depressão seja a doença
com mais incidência no mundo, esta doença mental tem vindo a aumentar. Contudo porquê
falar do desenvolvimento infantil? A infância é como a coluna vertebral da
identidade do sujeito, a base da pirâmide psíquica. A qualidade das interacções
precoces com o bebé vão promover um sentido de pertença e de segurança, na
criança, que irá se repercutir até a fase adulta.
Mitos sobre o
desenvolvimento dos bebés: “O bebé ou a criança não percebem nada do que se
diz ou se faz... Apenas querem cuidados básicos desprovidos de
afectos... O ambiente familiar não influencia os bebés, pois ainda não têm
consciência” Estão completamente incorretos,
os bebés são autênticas esponjas emocionais, detetam e sentem, na pele, todos
os ambientes afetivos exteriores. Se a família for muito disfuncional, se os
pais promovem ambientes conflituosos, então os bebés irão sofrer tal como os
pais.
Estudos revelam que o recém-nascido apresenta elevados graus
de cortisol que consiste numa hormona
responsável pelos níveis de reactividade
ao stress ou ansiedade. Contudo, esta reactividade ao stress tende a
diminuir ao longo do primeiro ano de vida, à medida que a relação precoce entre
cuidador e bebé se regula, sendo que depende da contingência e sensibilidade das
figuras parentais. Verificou-se correlação entre a falta de sensibilidade do
cuidador aos sinais do bebé e a continuidade ou até mesmo um aumento dos níveis
de cortisol ao longo da infância. Esta situação pode prolongar-se para a fase
adulta (e sucessivas gerações) através da criação de padrões fixos de resposta
ao stress que envolvem o funcionamento restrito de neuro transmissores e de
glucocorticoides.
Um clima emocional
precoce de stress, repleto de emoções negativas, leva o bebé a não conseguir
atingir um estado de equilíbrio homeostático, estando permanentemente receoso
por não encontrar, na relação, alguma significação que permita acalmar este
estado. A regulação hormonal do medo depende, essencialmente, da capacidade que
os pais têm para estabelecer comunicações empáticas, de partilha de estados
mentais e afectivos e, assim, conterem a ansiedade do bebé.
As investigações
verificaram que este tipo de relação leva as crianças a desenvolverem
instrumentos de gestão emocional, bem como, está associado a uma maior
capacidade de aprendizagem e concentração.
O bebé exige muito dos pais, da sua atenção, precisa de se
certificar que é amado e respeitado. Se assim for vai crescer com amor-próprio
e confiante das suas capacidades. Todos os comportamentos, acções, e
atribuições de carácter dos pais aos filhos vão ter consequências na construção
de identidade dos bebés. O bebé vai querer sempre se adequar às expectativas
dos pais quer sejam positivas (conscientes) quer sejam negativas (inconscientes).
Quer uma criança feliz? Então trate da sua felicidade.
Dra. Mafalda Leite Borges
Canto da Psicologia
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