quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Tal pai tal filho...









“De pequenino se torce o pepino”

No mês em que as crianças regressam ou iniciam os seus ciclos escolares podemos reflectir sobre as seguintes questões: Como as crianças reagem à entrada na creche ou no pré-escolar pela primeira vez? Porque a saúde mental começa no bebé qual a importância dos primeiros três anos de vida na construção da identidade?

A nossa sociedade e, principalmente, a portuguesa não privilegia a saúde do bebé. As mães apenas têm quatro meses de baixa de maternidade e a figura paterna pode ter um mês, neste contexto, colocam-se os bebés de 5 ou 6 meses em creches, em ambientes totalmente novos sem a relação privilegiada tão fundamental para a sua saúde.

Esta sociedade que ignora completamente a primeira infância, apesar das inúmeras e exaustivas investigações científicas que sublinham a importância, desta fase de desenvolvimento, para saúde quer física quer mental do futuro adulto. Sabemos que nos países ditos “mais desenvolvidos” no Norte da Europa os pais podem ter direito a 3 anos de baixa, de forma a poderem dar a atenção necessária e a qualidade relacional ao seu bebé. Contudo em Portugal a realidade é bem diferente pelo que as consequências têm vindo a notar-se, cada vez mais se medicam as crianças e se diagnosticam com atraso de desenvolvimento, hiperactividade e deficit de atenção.

À medida que a sociedade avança mais se desumaniza, os bebés não têm direito a ficar bebés, as crianças têm de crescer rapidamente e, depois, transformam-se em adultos incompletos, com falhas no desenvolvimento psicoafectivo, de difícil acompanhamento psicoterapêutico. A prevenção é, assim, totalmente ignorada e consequentemente multiplicam-se as problemáticas na saúde mental. Segundo dados da OMS estima-se que em 2030 a Depressão seja a doença com mais incidência no mundo, esta doença mental tem vindo a aumentar. Contudo porquê falar do desenvolvimento infantil? A infância é como a coluna vertebral da identidade do sujeito, a base da pirâmide psíquica. A qualidade das interacções precoces com o bebé vão promover um sentido de pertença e de segurança, na criança, que irá se repercutir até a fase adulta.




 Mitos sobre o desenvolvimento dos bebés: “O bebé ou a criança não percebem nada do que se diz ou se faz... Apenas querem cuidados básicos desprovidos de afectos... O ambiente familiar não influencia os bebés, pois ainda não têm consciência” Estão completamente incorretos, os bebés são autênticas esponjas emocionais, detetam e sentem, na pele, todos os ambientes afetivos exteriores. Se a família for muito disfuncional, se os pais promovem ambientes conflituosos, então os bebés irão sofrer tal como os pais.

Estudos revelam que o recém-nascido apresenta elevados graus de cortisol que consiste numa hormona responsável pelos níveis de reactividade ao stress ou ansiedade. Contudo, esta reactividade ao stress tende a diminuir ao longo do primeiro ano de vida, à medida que a relação precoce entre cuidador e bebé se regula, sendo que depende da contingência e sensibilidade das figuras parentais. Verificou-se correlação entre a falta de sensibilidade do cuidador aos sinais do bebé e a continuidade ou até mesmo um aumento dos níveis de cortisol ao longo da infância. Esta situação pode prolongar-se para a fase adulta (e sucessivas gerações) através da criação de padrões fixos de resposta ao stress que envolvem o funcionamento restrito de neuro transmissores e de glucocorticoides.

 Um clima emocional precoce de stress, repleto de emoções negativas, leva o bebé a não conseguir atingir um estado de equilíbrio homeostático, estando permanentemente receoso por não encontrar, na relação, alguma significação que permita acalmar este estado. A regulação hormonal do medo depende, essencialmente, da capacidade que os pais têm para estabelecer comunicações empáticas, de partilha de estados mentais e afectivos e, assim, conterem a ansiedade do bebé.

 As investigações verificaram que este tipo de relação leva as crianças a desenvolverem instrumentos de gestão emocional, bem como, está associado a uma maior capacidade de aprendizagem e concentração.

O bebé exige muito dos pais, da sua atenção, precisa de se certificar que é amado e respeitado. Se assim for vai crescer com amor-próprio e confiante das suas capacidades. Todos os comportamentos, acções, e atribuições de carácter dos pais aos filhos vão ter consequências na construção de identidade dos bebés. O bebé vai querer sempre se adequar às expectativas dos pais quer sejam positivas (conscientes) quer sejam negativas (inconscientes). Quer uma criança feliz? Então trate da sua felicidade.


Dra. Mafalda Leite Borges

Canto da Psicologia



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