Vários são os panos de
fundo que remetem para as relações humanas, para aquilo que une, desune, para o
que agrada e desagrada, para o que dói
e para o que dá prazer.
Bastantes casos em
psicoterapia traduzem vivências de sofrimento psicológico inerente a desligações relacionais; outros,
traduzem alguma frustração pelo sentir do enfraquecimento da intensidade da ligação que, muitas vezes é
perfeitamente natural.
Fazendo um enfoque nas
relações amorosas, uma vez que é comum ouvir-se frases como: ”(…) já
não era como no início…estou preocupado(a), com medo que acabe (…)”,
introduzirei uma justificação psico-biológica para tais sentimentos.
As várias posições científicas na área convergem no
considerar que o amor acontece no cérebro
através de um conjunto de reacções de índole química.
A primeira
fase é chamada “fase do desejo” e é desencadeada pelas nossas hormonas
sexuais, a testosterona nos homens e o estrogénio nas mulheres.
Quase paralelamente, “fase da paixão”, uma das primeiras
reacções é a secreção de um neurotransmissor chamado feniletilamina que provoca
sentimentos de excitação, prazer, gerando sentimentos de alegria (“estou apaixonado(a)”). A feniletilamina
controla a passagem da fase do desejo para a fase do amor e é um composto
químico com um efeito poderoso sobre nós, tão poderoso, que pode tornar-se
viciante. O nosso corpo desenvolve naturalmente a tolerância aos efeitos da
feniletilamina e cada vez é necessário maior quantidade para provocar o mesmo
efeito (Ribeiro-Claro, 2006). Ao mesmo tempo são libertados outros agentes
químicos como a dopamina. Por outro lado, as glândulas supra-renais libertam
adrenalina que justificam a sensação de nervosismo, como a falada “borboleta na
barriga”, aceleração do ritmo cardíaco e outros sintomas que sucedem quando um
pessoa está posicionada perante situações de ansiedade (e.g. mãos suadas).
Posteriormente, “fase de ligação”, uma das hormonas
produzidas é a oxitocina, conhecida como a hormona do carinho, essencial na
ligação mãe-bebé (produção de leite para a amamentação).
Estabelecida uma relação amorosa, o cérebro liberta endorfinas
que tem um efeito de relaxamento que provoca os sentimentos de segurança e
confiança.
Quando tal se sucede, os níveis de feniletilamina descem e os seus efeitos vão enfraquecendo, o que leva a muitas pessoas considerarem que a relação perdeu o interesse e a direccionarem-se para outra relação.
Quando tal se sucede, os níveis de feniletilamina descem e os seus efeitos vão enfraquecendo, o que leva a muitas pessoas considerarem que a relação perdeu o interesse e a direccionarem-se para outra relação.
Aparentemente, a feniletilamina é degradada
rapidamente no sangue, pelo que não haverá possibilidade de atingir uma
concentração elevada no cérebro por ingestão (Ribeiro-Claro, 2006).
De forma sucinta, quando conhecemos uma pessoa,
assim como quando estamos perante um novo estímulo, desconhecido, o nosso
cérebro reage de forma a apreender o novo como um todo, integrando-o numa
espécie de base conhecida. Com o decorrer do tempo, perante o mesmo estímulo,
como é o exemplo duma relação, adaptativamente o nosso cérebro despende
gradualmente menos energia para poder estar disponível para todos os novos
estímulos do dia-a-dia, essencial de serem processados. Não seria “económico”
para o nosso cérebro gastar sempre a energia máxima perante um único estímulo
continuadamente.
É interessante pensar
nisto!
Dr. André Viegas
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