“Não é que morra de amor, morro de ti.
Morro de ti, amor, amor de ti,
da urgência da minha pele de ti,
da minha alma de ti e da minha boca
e do insuportável que sou sem ti.”
Jaime Sabines
É seguro dizer que o Amor é o tema mais misterioso, controverso e debatido por
todos... poetas, músicos, dramaturgos, escritores, médicos, cientistas,
filósofos, religiosos, sociólogos e claro, psicólogos, dedicam-se há muito a
reflectir e a investigar sobre o fenómeno do Amor.
A Psicologia estuda este tema, com particular foco na experiência sentida na
infância, por saber que esse modelo define o padrão de relacionamentos em
adulto. A dinâmica de relacionamentos com os outros é vivenciada e estabelecida
desde o nascimento, onde o processo de vínculo inicia uma organização que se
constrói a partir da interacção entre os cuidadores e as crianças. Esta será a
base enquanto substrato emocional, cognitivo e comportamental para todas as
experiências emocionais futuras.
Sabemos hoje que, faz parte
da nossa sobrevivência, manter ligações estreitas e saudáveis com os outros. Então,
porque é o amor tão assustador?
De acordo com o nosso funcionamento psicológico e com as experiências sentidas,
todos nós utilizamos alguns mecanismos que emocionalmente permitem evitar e
ultrapassar situações traumáticas. Deste modo, criámos uma forma especial de
lidar com a possível rejeição de quem amamos que se pode traduzir de várias
formas. Muitas vezes parecem incompreensivas e até antagónicas do amor percepcionado,
são reacções que surgem pela incapacidade de tolerar a possível perda do amor
do outro. A rejeição, a hostilidade, o distanciamento e a desconfiança são alguns
dos mecanismos utilizados como resposta defensiva ao conflito desencadeado pelo
sofrimento. Aparecem como nuvens escuras, primeiro no horizonte, invadindo um
lindo dia de sol, que se vai instalando até permanecer como algo inseguro, ambivalente
e duradouro.
Actualmente e, apesar de estarmos mais informados do que alguma vez estivemos, percebemos
que os relacionamentos se estabelecem numa dinâmica de Login e Logout cada vez
mais frequente. A era digital, das atitudes instantâneas, imediatistas e
fugazes que permeiam novos estilos de relacionamento, fazem pensar sobre a
fragilidade das ligações íntimas e da sua pouca saúde. Há menos tolerância e,
se por acaso, alguém ousa não estar de acordo, basta eliminar ou bloquear para
deixar de existir; o mundo virtual tornou-se então um lugar confortável para se
viver?
Se pensarmos que o funcionamento psicológico está preparado para instalar
mecanismos que nos defendem do sofrimento, não é difícil imaginar que a era
digital tende a exponenciar este tipo de resposta causando a existência de ligações
afectivas muito mais vulneráveis e frágeis. Curiosamente, e em sentido
contrário conhecemos cada vez mais pessoas que optam por ficar sozinhas...
Pode ser mais difícil confiar no amor do outro do que nas experiências
traumáticas, mas acreditar que é possível despertar no outro um amor saudável ,
sólido e autêntico é aceitar que somos seres
amáveis.
Dra. Fanisse Craveirinha
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