quinta-feira, 22 de novembro de 2018

AMOR: Login ou Logout?







Não é que morra de amor, morro de ti.
Morro de ti, amor, amor de ti,
da urgência da minha pele de ti,
da minha alma de ti e da minha boca
e do insuportável que sou sem ti.”
                                       Jaime Sabines




É seguro dizer que o Amor é o tema mais misterioso, controverso e debatido por todos... poetas, músicos, dramaturgos, escritores, médicos, cientistas, filósofos, religiosos, sociólogos e claro, psicólogos, dedicam-se há muito a reflectir e a investigar sobre o fenómeno do Amor. 

A Psicologia estuda este tema, com particular foco na experiência sentida na infância, por saber que esse modelo define o padrão de relacionamentos em adulto. A dinâmica de relacionamentos com os outros é vivenciada e estabelecida desde o nascimento, onde o processo de vínculo inicia uma organização que se constrói a partir da interacção entre os cuidadores e as crianças. Esta será a base enquanto substrato emocional, cognitivo e comportamental para todas as experiências emocionais futuras. 

Sabemos hoje que, faz parte da nossa sobrevivência, manter ligações estreitas e saudáveis com os outros. Então, porque é o amor tão assustador? 

De acordo com o nosso funcionamento psicológico e com as experiências sentidas, todos nós utilizamos alguns mecanismos que emocionalmente permitem evitar e ultrapassar situações traumáticas. Deste modo, criámos uma forma especial de lidar com a possível rejeição de quem amamos que se pode traduzir de várias formas. Muitas vezes parecem incompreensivas e até antagónicas do amor percepcionado, são reacções que surgem pela incapacidade de tolerar a possível perda do amor do outro. A rejeição, a hostilidade, o distanciamento e a desconfiança são alguns dos mecanismos utilizados como resposta defensiva ao conflito desencadeado pelo sofrimento. Aparecem como nuvens escuras, primeiro no horizonte, invadindo um lindo dia de sol, que se vai instalando até permanecer como algo inseguro, ambivalente e duradouro.

Actualmente e, apesar de estarmos mais informados do que alguma vez estivemos, percebemos que os relacionamentos se estabelecem numa dinâmica de Login e Logout cada vez mais frequente. A era digital, das atitudes instantâneas, imediatistas e fugazes que permeiam novos estilos de relacionamento, fazem pensar sobre a fragilidade das ligações íntimas e da sua pouca saúde. Há menos tolerância e, se por acaso, alguém ousa não estar de acordo, basta eliminar ou bloquear para deixar de existir; o mundo virtual tornou-se então um lugar confortável para se viver?

Se pensarmos que o funcionamento psicológico está preparado para instalar mecanismos que nos defendem do sofrimento, não é difícil imaginar que a era digital tende a exponenciar este tipo de resposta causando a existência de ligações afectivas muito mais vulneráveis e frágeis. Curiosamente, e em sentido contrário conhecemos cada vez mais pessoas que optam por ficar sozinhas...

Pode ser mais difícil confiar no amor do outro do que nas experiências traumáticas, mas acreditar que é possível despertar no outro um amor saudável , sólido e autêntico é aceitar que somos seres amáveis.

Dra. Fanisse Craveirinha






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