“O
essencial é invisível aos olhos.”
Antoine de Saint-Exupéry
A
dificuldade em relacionar-nos é das principais causas de sofrimento humano. Nunca
estivemos rodeados de tanta gente como hoje mas nunca nos sentimos tão sós quanto
agora. Vivemos à distância de um click,
mas nunca estivemos tão longe do toque físico e da presença afetiva do outro.
Estima-se que tocamos mais no nosso telemóvel que noutro ser humano.
De
acordo com um estudo da American Psychological Association, o
isolamento social é tão prejudicial para a saúde como o hábito de fumar 15
cigarros. De acordo com este estudo, a solidão é nefasta para a nossa saúde uma
vez que tem elevada relação com o risco de desenvolvimento de doenças
cardiovasculares.
O
sentimento de solidão faz com que o ser humano esteja em estado de alerta
contínuo, na medida em que tem de defender-se sozinho constantemente, o que faz
com que exista um aumento da pressão sanguínea, devido à libertação no
organismo de elevadas concentrações de cortisol, hormona associada na resposta
ao stress. Um aprofundamento do tema
fez concluir que os níveis elevados de cortisol e posterior aumento da pressão
sanguínea associados a sentimentos de solidão, aumentam o risco de ocorrência
de acidentes vasculares cerebrais
(AVCs), igual fator de risco para o desenvolvimento de quadros clínicos de
demência.
De
facto, o Homem não nasceu para viver sozinho pois não existe desenvolvimento
humano sem vínculos. O sentimento de solidão é pois um sinal alerta para a
procura de companhia, assim como a fome e a sede são alertas para necessidades
orgânicas que têm de ser satisfeitas.
A
estruturação do desejo humano consegue-se através da estruturação dos laços
afetivos com um outro. Somos sujeitos da
falta e o comprometimento afiliativo, a necessidade de nos afiliarmos a
alguém, denota um sentimento de fazer parte
de (uma relação dual ou plural), de onde provem o nutriente emocional tão
imprescindível ao nosso desenvolvimento: o afeto, o amor.
A
ausência deste nutriente emocional manifesta-se
em sentimentos de abandono, sentimentos de rejeição, depressão, insegurança,
ansiedade, falta de esperança, inutilidade, insignificância e ressentimento.
Apesar de tudo, esta necessidade afiliativa,
que se transforma num pedido ao outro, é inesgotável e, por isso, impossível de
ser totalmente satisfeita. Como sujeitos
da falta nunca estaremos totalmente
satisfeitos. O desejo sempre insatisfeito, o “vazio constitutivo” irá pois mover-nos
na e para a vida.
A
solidão pode ocorrer em diversas momentos do nosso desenvolvimento e em várias
situações nas quais não nos sentimos inseridos e ocorre com mais frequência em
grandes centros urbanos podendo, não obstante de ser sintoma de um problema
social, ser também sintoma de ordem psicológica (associado a questões de
personalidade) que poderá necessitar de intervenção.
Num
processo psicoterapêutico, através da relação terapêutica com o psicólogo, é
oferecida ao sujeito a possibilidade de ter um espaço e um tempo onde poderá
fortalecer-se e desenvolver as suas capacidades internas ao tornar (mais)
conscientes alguns aspetos do seu funcionamento. Nessa continuidade
transformativa, potencia-se igualmente um fortalecimento e um “amadurecimento
emocional” que possibilite uma significativa melhoria nas relações sociais,
diminuindo assim, a sensação da solidão (Abaliac, R., 2017).
André Viegas,
Canto da Psicologia
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