quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Solidão e Saúde...






“O essencial é invisível aos olhos.”

Antoine de Saint-Exupéry

 

A dificuldade em relacionar-nos é das principais causas de sofrimento humano. Nunca estivemos rodeados de tanta gente como hoje mas nunca nos sentimos tão sós quanto agora. Vivemos à distância de um click, mas nunca estivemos tão longe do toque físico e da presença afetiva do outro. Estima-se que tocamos mais no nosso telemóvel que noutro ser humano.
De acordo com um estudo da American Psychological Association, o isolamento social é tão prejudicial para a saúde como o hábito de fumar 15 cigarros. De acordo com este estudo, a solidão é nefasta para a nossa saúde uma vez que tem elevada relação com o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
O sentimento de solidão faz com que o ser humano esteja em estado de alerta contínuo, na medida em que tem de defender-se sozinho constantemente, o que faz com que exista um aumento da pressão sanguínea, devido à libertação no organismo de elevadas concentrações de cortisol, hormona associada na resposta ao stress. Um aprofundamento do tema fez concluir que os níveis elevados de cortisol e posterior aumento da pressão sanguínea associados a sentimentos de solidão, aumentam o risco de ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (AVCs), igual fator de risco para o desenvolvimento de quadros clínicos de demência.
De facto, o Homem não nasceu para viver sozinho pois não existe desenvolvimento humano sem vínculos. O sentimento de solidão é pois um sinal alerta para a procura de companhia, assim como a fome e a sede são alertas para necessidades orgânicas que têm de ser satisfeitas.
A estruturação do desejo humano consegue-se através da estruturação dos laços afetivos com um outro. Somos sujeitos da falta e o comprometimento afiliativo, a necessidade de nos afiliarmos a alguém, denota um sentimento de fazer parte de (uma relação dual ou plural), de onde provem o nutriente emocional tão imprescindível ao nosso desenvolvimento: o afeto, o amor. 
A ausência deste nutriente emocional manifesta-se em sentimentos de abandono, sentimentos de rejeição, depressão, insegurança, ansiedade, falta de esperança, inutilidade, insignificância e ressentimento.
 Apesar de tudo, esta necessidade afiliativa, que se transforma num pedido ao outro, é inesgotável e, por isso, impossível de ser totalmente satisfeita. Como sujeitos da falta nunca estaremos totalmente satisfeitos. O desejo sempre insatisfeito, o “vazio constitutivo” irá pois mover-nos na e para a vida.
A solidão pode ocorrer em diversas momentos do nosso desenvolvimento e em várias situações nas quais não nos sentimos inseridos e ocorre com mais frequência em grandes centros urbanos podendo, não obstante de ser sintoma de um problema social, ser também sintoma de ordem psicológica (associado a questões de personalidade) que poderá necessitar de intervenção.
Num processo psicoterapêutico, através da relação terapêutica com o psicólogo, é oferecida ao sujeito a possibilidade de ter um espaço e um tempo onde poderá fortalecer-se e desenvolver as suas capacidades internas ao tornar (mais) conscientes alguns aspetos do seu funcionamento. Nessa continuidade transformativa, potencia-se igualmente um fortalecimento e um “amadurecimento emocional” que possibilite uma significativa melhoria nas relações sociais, diminuindo assim, a sensação da solidão (Abaliac, R., 2017).


André Viegas,
Canto da Psicologia



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