quarta-feira, 17 de julho de 2013




Diário de Uma Terapia 


10 de Julho de 2013

Quando terminou a última sessão e me dirigi às escadas, desta feita  para descê-las, saí com um estranho conforto aqui por dentro. O subir e descer escadas nas visitas à psicóloga têm sido acompanhados por muitas emoções, é um facto: a angústia de não saber o que dizer, a expectativa do que vou encontrar naquele dia, o medo de chegar atrasada e de falhar, ou o turbilhão em que tantas vezes saio porta fora, com tanto que pensar!
Mas, desta vez, em alguma coisa tudo isto foi diferente. O que é curioso, porque falou-se em medos. Ou resistências. (Bom, continuo a achar que são medos, sim, medos). E talvez fosse suposto sair, sei lá, assustada. Mas a verdade é que, mesmo falando dos medos e reconhecendo até que a psicóloga terá alguma razão quando me diz que tocar em alguns assuntos é difícil para mim, mesmo sendo tudo isso verdade, houve um conforto e uma serenidade que se instalou quando saí daquele espaço. Uma espécie de sossego que me é estranho, porque, bem vistas as coisas,  não me lembro da última vez que me senti assim... Assim... E falta-me a palavra! Assim, num lugar que é sobretudo agradável, que me fez conduzir até casa acompanhada pela Smooth FM, alheia ao trânsito, ao condutor que apita furioso, à ambulância que passa em alta velocidade. Eu, apenas eu, numa tranquilidade com que o meu rádio amigavelmente se sintonizou...


-          Bom dia, Madalena!


E, realmente, nada como uma sessão de psicoterapia para dar nome ao que se sente. É que a tal palavra que me faltava, aquela que encaixaria como uma luva neste estado de espírito entretanto descoberto e que não me surgia de maneira alguma é, para meu espanto, ACOMPANHADA.
-          “Parece que esse lugar de que fala, onde é possível viajar sozinha, é um lugar onde começa a sentir-se acompanhada, como aqui, neste espaço, onde é possível pensar as coisas difíceis sem ter que ficar absolutamente só com elas.”, disse-me a psicóloga!


E, de repente, recordo-me ainda durante a sessão, que foi assim que terminou a última, precisamente com qualquer coisa deste género a respeito de pensar as coisas difíceis... Que não estaria sozinha nessa tarefa e que poderia contar com aquele espaço! Agora sim, faz sentido! O que não deixa de ser espantoso, porque embora não tenha conseguido lembrar-me da palavra ou da expressão que a psicóloga me disse, foi mesmo assim que me senti, acompanhada. Acompanhada por uma nova forma de relação, que ainda é difícil de compreender como funciona, mas que parece que vai ganhando significado... Acompanhada como poucas vezes me senti, entre um pai ausente e austero e uma mãe que, por vezes, parecia alienar-se um pouco de tudo e de todos... 


1 comentário:

  1. À essa equipe que merece a minha admiração e respeito, os meus parabéns mais uma vez! Só quem lida com psicoterapia, tanto como terapeuta, quanto como paciente, sabe o quão acompanhados nos sentimos quando a terapia começa a fazer sentido! É um lugar muito, muito especial! Todos deveriam fazer terapia...Um ótimo dia a vocês! Lila.

    ResponderEliminar