quinta-feira, 9 de junho de 2016

Seja um "like" fluorescente....







Seja um “like” amarelo fluorescente!

A propósito de uma entrevista televisiva no dia da criança, estas comentavam e opinavam sobre os adultos. Entre os mais hilários comentários ouviram-se os seguintes:

·         “Eu gostava que a minha mãe não andasse tão irritadiça…porque eu ando a ficar um bocado farto disso!”
·         “Acho que os adultos às vezes não conseguem estar alegres. Não conseguem brincar. Vêm do trabalho já chateados  e depois continuam chateados!”
·         “ Os adultos ás vezes são esquisitos. (…) Se eles não tivessem tão sozinhos acho que eram mais felizes. Podiam ter amigos e tentar fazer coisas juntos.”
·         “ Gostava que o meu pai pudesse ficar nas férias comigo e aos fins-de-semana e que se tivesse que ir a algum lado, eu podia ir com ele!”

Se tivéssemos no olhar o traço grosso de uma caneta fluorescente, sublinharíamos a amarelo vivo os seguintes pontos: trabalho/chateado; irritadiça/farto disso; sozinho/mais felizes. Pontos estes que claramente nos saltariam tanto à vista como seriam sentidos no coração, como a picada de abelha “interna” em pleno verão. Dir-se-ia um inchaço consequente de culpa, de questionamento crítico e de defesa argumentativa (por se ter sublinhado apenas o mau e/ou menos bom).

Porém, tal como estas opiniões o inchaço manter-se-ia ali sentido no coração e pensado e repensado em eco, como uma melodia emocional de batida irritante e viciante. É um facto que como pais, adultos e crescidos (como eles dizem) queremos chegar a tudo e a todo o lado, muitas vezes sem sequer pensar em usar o escadote ou pedir ajuda. Mais, queremos dar o melhor da melhor maneira, ignorando o sinal de bateria gasta e sem ouvir os outros. E como queremos tanto!! E é exatamente neste último ponto de ouvir os outros que nos estendemos ao comprido sem haver casca de banana. Estes outros….que são também adultos que outrora foram um dos números mais marcados no telemóvel ou com mais abraços numa noite por metro cúbico, e agora quanto muito representam o maior número de “likes” no facebook. Os outros…que são menos crescidos e se acham enormes, que têm na porta do quarto um sinal – Pruíbida a entrada a adultos/espessialmente pais! (sim os erros foram intencionais) – e mergulham no drama do acne e da net lenta ao final do dia. E os tais outros…ainda menos crescidos que parecem trabalhar a luz solar, lunar e (muitas vezes) energia extraplanetária, que retêm em si todo o barulho de um festival de verão e poder devastador de um furacão, mas porém…são genuinamente uma espécie de outros que só querem ser como nós.

E com a mesma rapidez com que sustemos a respiração ao ler o que já havíamos constatado, sentimo-nos envergonhados e culpados por ser tantas vezes esta a verdade. E depois sentimo-nos novamente envergonhados por não sabermos como admitir que há muito sofremos de uma surdez seletiva inconsciente, para com aqueles que mais nos rodeiam. Um embaraço ao perceber que mais rapidamente levantamos o som da televisão do que nos dispomos a ligar aquele amigo (que nunca liga é certo, mas só faz o mesmo que nós, não?), ou que fazemos um like na foto do jantar à beira-mar da colega em vez de mimar com um abraço de mãe aquela borbulha gigante dramática com corpo e cabeça semi-adultos. E afundamo-nos um pouco mais no aperto… quando percebemos que aquela pequena grande “espécie de outros” contém em si para não nos ferir, a opinião amarela fluorescente (com estrelas e coraçõezinhos é certo!) de que somos sozinhos, menos felizes, irritadiços, mas, e ainda assim,…sempre desejados e admirados.
Pelo embaraço que sentiu e pelas vezes que já sofreu de surdez selectiva inconsciente…Ouça o olhar, o abraço e demonstre o seu “like” a todos os seus “outros”.



Nota: Os erros de pontuação e escrita deste texto vêm directos do coração e não de um acordo ortográfico.

                                                                                                                                           Drª. Joana Cloetens
O Canto da Psicologia

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