quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A guerra que não é minha....









Casa da Mãe, Casa do Pai

- Os Efeitos Colaterais do Divórcio

Há já algum tempo que o divórcio deixou de ser um tema de excepção, para representar um aspecto central na realidade das famílias portuguesas. Contudo, ainda se verifica uma grande dificuldade na reorganização familiar no processo pós-divórcio, escasseando recursos e ferramentas que suportem esta ruptura, de forma a torná-la o mais suportável para a criança.

Na verdade, a separação constitui um corte com um conjunto de papéis que têm que ser repensados, implicando um reestruturar do que se torna a parentalidade. O que se verifica, porém, é a uma profunda dificuldade dos pais em encontrarem o seu lugar neste novo papel, onde a conjugalidade aparece frequentemente confundida com a parentalidade. Estas duas realidades sobrepõem-se mais do que seria desejável para a saúde mental da criança, interpelando-se o que é ser pai e mãe de um mesmo filho, com uma relação a dois que não funcionou e que tem que ser elaborada.



Numa altura em que não há tempo para lutos e em que se procura a substituição imediata do parceiro, estes vários papéis arriscam-se a ficar submersos numa teia confusa para os adultos, mas, inquestionavelmente, com implicações para os menores. Em consulta terapêutica com pais e filhos, assistimos a esta dificuldade e intervimos como uma ferramenta desbloqueadora num trabalho que, para muitos pais, não é possível fazer sozinhos.

Recordo-me, a propósito, de um menino de 10 anos que, ao fim de algum tempo deste trabalho conjunto, conseguiu reunir os pais na mesma festa da escola. Uma vitória, postas todas as guerras a que assistiu, nas quais se sentia refugiado dentro da sua própria casa. Este mesmo menino, que vivia com grande ambivalência a relação com ambos, não sabendo que lugar ocupar num conflito armado onde era, ora puxado para a aliança com cada um deles, ora esquecido no quarto, por entre os bombardeamentos, baixou o rendimento escolar, diminuiu a interação com os outros, desenvolveu um conjunto de sintomas face à angústia gerada pela ruptura.

O processo terapêutico como recurso e o suporte dado aos pais neste processo, permitiu criar condições para a mudança de todos, melhorando, assim, o bem-estar e o equilíbrio familiar. A consulta de aconselhamento parental é uma estratégia importante nesta jornada, quando os pais não se sentem capazes de lidar com tudo isto sozinhos.


O Canto da Psicologia

Dra. Joana Alves Ferreira



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