quinta-feira, 14 de março de 2019

Crianças e Jogos online: o mundo mágico (im)perfeito







É cada vez mais natural para as novas gerações, preferirem o consumo de produtos digitais e, quanto a isso, sabemos hoje, não adianta fugir. Todos nós... pais, educadores, avós, professores e até terapeutas usufruímos dos benefícios da era virtual e já nos rendemos à realidade do log in vs logo existo. 
Contudo, na era das selfies e das redes sociais, há um tema que pouco conhecemos e temos receio de aprofundar, até porque, às vezes dá muito jeito que haja sossego e silêncio por um certo período de tempo…

- "Para vê-lo sossegado Dra., só quando está a jogar."

Mas afinal porque são os jogos online atrativos para as crianças e como conseguem mantê-los tão concentrados e focados?

Já ousou sentar-se ao lado de uma criança e atrever-se a entender o que está a jogar? FortniteGTALeague of LegendsCounter StrikeDOTAWorld of WarcraftAPEXAssassin's CreedFinal Fantasy, entre outros, apresentam-se numa lista infindável dos designados online games que se dividem em algumas categorias e que podem ser jogados em grupo ou individualmente.

Os gráficos e os cenários são mágicos, com cores e características visuais muito apelativas. Alguns jogos retratam cidades modernas, outros tempos medievais, arenas de batalha ou simplesmente locais abandonados onde a facilidade para entrar em combate com inimigos é contextualizada. Na maioria dos enredos está aliada a sobrevivência do personagem ou da sua equipa e a conquista de alguma terra ou de um objectivo comum. A criação do personagem implica personificar um terrorista, polícia, traficante, templário ou um estratega com determinadas habilidades e competências. Para dar maior capacidade e realismo é atribuído numa fase inicial, um conjunto de recursos como por exemplo armas, que vão possibilitar o desempenho mais eficaz da missão.

- "Dra. sempre que é hora de ir para a cama e lhe peço para parar de jogar há gritaria lá em casa".


Há três factores principais que ajudam a explicar o fenómeno e a adesão de crianças cada vez mais novas à realidade dos jogos online, com este tipo de características. A percepção de competência e o reconhecimento conseguido através das conquistas e do objetivo alcançado dá às crianças um autoconceito positivo naquela missão. Por outro lado, a possibilidade que é permitida nos jogos para pensar com autonomia e independência é fundamental no estímulo da capacidade criativa e muito desejada por qualquer criança. Finalmente, os jogos online também são peritos, quando exploram a dimensão interpessoal e relacional, porque criam o sentimento de pertença e atribuem um status social de acordo com a performance e o número de vitórias obtidas.

Pode então parecer que estamos diante de uma combinação perfeita e encantada sem precedente, mas na verdade, nenhum jogo se aproxima da satisfação profunda que a vida real e as ligações humanas produzem nas crianças
A competência obtida na execução de uma tarefa difícil ou da aprendizagem de uma nova habilidade por conta própria é muito mais rica. A autonomia resultante do jogo não consegue competir com a alegria da exploração da realidade, onde a criança é livre para desvendar os mistérios do mundo e, o sentimento de pertença experienciado nas equipas online não se equipara à segurança, ao afecto e ao amor de um adulto que realmente a ama e se preocupa com ela independentemente do modo como é.

Não podendo fugir da era da realidade virtual, podem os educadores estar atentos a este fenómeno, limitando o tempo de jogo, criando regras em conjunto, partilhando ideias sobre outros interessses, vigiando as horas de sono e de descanso, prevenindo assim situações graves de dependência.  
É indispensável privilegiar actividades que impliquem criatividade, autonomia, descoberta, aquisição de novas habilidades onde o reconhecimento, o fazer em conjunto e a cooperação são palavras de ordem.

Os jogos simulam e tentam recriar a realidade, mas não podem substituir nem ter a relevância do experienciar necessário que a vida impõe a qualquer criança. 
A vida real não é um jogo… 










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