quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Sobre a vinculação...






A teoria da vinculação surgiu no início dos anos 40 pelas mãos de John Bowlby e Mary Ainsworth, tendo-se tornado numa referência que funciona nos nossos dias como um fenómeno central das relações em geral e das relações bebé-pais em particular. A vinculação estabelece-se no primeiro ano de vida em relação à pessoa que é prestadora de cuidados ao bebé e, em princípio, lhe proporciona uma sensação de conforto e proteção. Embora o bebé não se vincule apenas a uma pessoa mas a várias que lhe prestam cuidados e que o acompanham, denota-se uma hierarquia entre estas figuras, existindo uma com a qual constrói uma relação preferencial. A figura de vinculação privilegiada parece abarcar fatores importantes como o tempo despendido com a prestação de cuidados ao bebé, o seu investimento emocional e a sua presença constante na vida do bebé, sendo que a ligação biológica não é um critério necessário. A capacidade desta figura dar uma resposta adequada às necessidades da criança, com uma dimensão emocional adaptada é fundamental.

A partir do estudo da relação dasmães e dos seus bebés foi possível distinguir três padrões de vinculação: seguro, no qual se assiste à regulação construtiva das emoções; inseguro-evitante, que se pauta pela inibição da experiência emocional; e, inseguro-ambivalente/ansioso, caracterizado pela intensificação de emoções indesejadas. Este estudo, que começou por ser feito com famílias consideradas de baixo risco, foi depois alargado a famílias consideradas de risco, com um estatuto sócio-económico baixo, psicopatologia de pelo menos um dos cuidadores, práticas educativas desadequadas e/ou maus tratos. Deste modo foi encontrado um quarto padrão, o desorganizado, onde se identificam estratégias de vinculaçãoincoerentes face a situações de stress.

Os padrões de relação estabelecidos com as figuras de vinculação conduzem à formação de representações do próprio, em termos de valor e influência sobre os outros, e do outro, relativamente à sua acessibilidade e responsividade. A vinculação é um processo vital relevante ao longo de toda a vida e estas representações construídas na infância são generalizadas no decorrer do desenvolvimento, tornando-se como que um guia para as outras relações.

O conceito de base segura, que consiste na confiança do bebé de que a figura de vinculação está acessível e disponível se surgir a necessidade de conforto ou proteção, assume uma importância essencial desde a infância à idade adulta. Os adultos, tal como ascrianças, estão mais capacitados a explorar o meio e desenvolver as suas competências quando têm a a confiança de poder contar com pessoas disponíveis para prestar apoio em caso de dificuldade. Os adultos também procuram a proximidade à figura de vinculação em situações de stress ou desconforto e sentem-se mais ansiosos se esta não estiver acessível. Nesta fase encontram-se os mesmos padrões de vinculação, descritos anteriormente.

Naturalmente denotam-se também diferenças significativas. Na idade adulta os comportamentos de vinculação (que procuram a proximidade da figura de vinculação) são exibidos de uma forma menos intensa e menos frequente e existe a possibilidade de encontrar esse conforto e proteção em pessoas que não a figura de vinculação, tendo em conta que o adulto dispõe de mais recursos. E nesta fase o estabelecimento do vínculo é recíproco, uma vez que ambos dão e procuram suporte.






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