29 de Maio
Hoje o dia passou devagar, num
compasso marcado pelo número de vezes em que olhei para o relógio, ansiosa que
o ponteiro batesse certo com a minha vontade de sair porta fora do trabalho em direcção
àquele lugar. É claro que a minha colega irritante deu o seu contributo, como
vem sendo hábito... (Não posso mais com a prepotência com que me julga tratar!)
Mas, percebo claramente que a vontade de regressar não tem tanto que ver com
isso. (Incrível como ainda há tão pouco tempo atrás, eu achava que este espaço
não era assim tão importante). Pelo menos, hoje não é isso que está a mexer cá
por dentro.
Talvez porque a última sessão
foi... Diferente. Não sei explicar em quê, ou porquê, mas sei que me senti
estranhamente bem. Parece confuso dizê-lo a mim própria, mas foi assim que me
senti, enquanto os meus pensamentos foram surgindo, embrulhados nas recordações
que trago dentro de mim, num lugar que nem imaginava existir (das coisas que eu
me fui lembrar! Ainda me interrogo que caixa é esta que trago em cima dos
ombros e o que ela tem por desvendar..!). E não foi só na sessão, foi também
depois quando saí, e depois nos dias que correram e nas noites que, para
variar, fico acordada como uma verdadeira adolescente, que se entretém pela
noite dentro nas suas divagações!
Acho que é isso mesmo! Como uma
verdadeira adolescente! Foi essa parte de mim que não me lembrava já onde tinha
ficado, que fui recuperar na última sessão... E achava eu que ia falar dos
dilemas do meu filho João... Quando dou por mim de frente para a minha vivência
enquanto adolescente e, afinal de contas, perante os meus próprios dilemas!
Talvez por isso me tenha sentido
estranhamente bem... E estranhamente viva, que é coisa que parece que às vezes
não sinto. E quero perguntar-lhe porquê – Porque é que eu, Madalena, que vivi
com tanta intensidade amores, desamores, amizades e desavenças, hoje sou assim.
Digo assim, aprisionada (que raio, quero livrar-me desta expressão que me
incomoda, mas é a primeira que me surge).
Bom, com o João, talvez não tão
estranhamente, não sei, as coisas correram melhor. Até ouvi dele que era uma
mãe curtida, veja-se... Mas senti-me um pouco mais calma nas minhas hesitações
de mãe.
Oi!!! Está na hora. Cá vou eu ,
ainda embriagada pelas minhas interrogações.
Bom dia, Madalena!
E, quando saio, venho satisfeita
porque percebi que, entender-me, permitiu-me olhar para o meu projecto de
adolescente lá de casa de uma outra forma e a verdade é que parece ter
resultado... Bom, resultou em relação a esta última ida ao Bairro Alto, não
garanto é que as minhas angústias não venham daí todas outra vez, numa próxima!
Será?? Logo se vê! Importa é o que consegui desta vez!
Mas não consegui colocar-lhe a
minha interrogação. Faltou-me a palavra, ou talvez a coragem. Como
perguntar-lhe onde é que ficou essa Madalena adolescente, se ela pouco ainda
conhece de mim? Por enquanto, vai ficar aqui dentro de mim, até ao dia em que
não suportar mais esta dúvida ou, simplesmente, me esquecer dela... Por agora,
fica aqui pairar e sinto-me parva, por não ter tido o arrojo de a questionar.
Enfim, parece que tudo é mais fácil quando se é adolescente!
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