No Reino dos Porquês!
A Comunicação entre Pais e Filhos
Certamente, já lhe ocorreu ficar sem resposta para as inventivas
questões que o seu filho é capaz de colocar. Dotados de uma criatividade e de
um poder de interrogação inesgotável, as crianças são incrivelmente capazes de
levantar as mais inusitadas perguntas, transformando a assertividade dos mais
velhos num verdadeiro rol de embaraços!
Com efeito, é na descoberta que a criança faz de si e do mundo
que se abre espaço à dúvida – componente integrante do processo de crescimento,
representativa da capacidade de pensar e, por isso, prenúncio de saúde mental.
Todavia, do lado dos pais, a chegada ao reino dos porquês é, muitas vezes,
ladeada por uma esmagadora incerteza do que dizer, de como explicar e de se ser
capaz. Neste palmear de terra, gera-se a dúvida sobre a dúvida, emergindo
barreiras à comunicação, que restringem o entendimento e, assim, a própria
dimensão relacional entre pais e filhos.
Efectivamente, é com a mestria de que são capazes que os pais se
vão desenvencilhando, à medida que os filhos lançam tais desafios. Mas… Se há
temáticas que são particularmente difíceis, falar sobre sexualidade será uma
delas. Tema que acompanha todo o crescimento, a sexualidade constitui uma
importante componente do desenvolvimento da criança e que, por isso, impõe ser
devolvida sob a forma de resposta, sempre que necessário.
Importa lembrar que a pergunta em si mesmo denuncia uma
inquietação, pelo que exige que lhe seja devolvido um sentido, um entendimento.
Essa será a tarefa mais importante. Por outro lado, a criança fica, muitas
vezes, satisfeita com uma resposta sucinta, pelo que o que é realmente
necessário é compreender o que é que ela pretende exatamente saber,
respondendo-lhe de forma clara e precisa. Quando isto não é possível no
imediato e a mãe ou o pai não se sentem capazes de responder, é preferível
explicar à criança que irão pensar sobre o assunto e abordá-lo novamente mais
tarde. O fundamental é legitimar o sentir da criança e utilizar a verdade na
relação.
Assim deverá ser quando falamos sobre sexualidade. Desde que o
tema seja suscitado, importa que os pais pensem com os filhos sobre o mesmo e
que lhes permitam o conhecimento sobre si e sobre o que os rodeia, clarificando
e, necessariamente, tranquilizando a angústia que a dúvida encerra. Contudo,
não queremos com isto dizer que a criança deve ser exposta de forma abrupta à
realidade e que poderá encontrar formas de contornar a informação que lhe
parecerá necessária e suficiente. O que é realmente importante é não tanto o
conteúdo que é transmitido, mas a forma não-verbal como responde – a segurança,
a tranquilidade, o próprio tom de voz, são elementos que a criança captará.
Deixamos, em jeito de dica, algumas questões que, porventura, já
lhe terão colocado ou, quem sabe, irão colocar... Pense connosco:
- “Como é que eu nasci?”
Regra geral, todas as crianças questionam donde é que vêm,
enquanto dúvida universal. Devolver a ideia de que a criança nasceu a partir
dos pais e, se necessário, recorrer à célebre metáfora da semente que o pai
deixou na mãe será suficiente e apaziguador. Quando mais crescidos, poderá
ocorrer que a criança exija outro tipo de informação, e aí é importante
compreender a pertinência de explicar o processo de concepção à criança/adolescente,
desde que de uma forma contida e neutra.
- “Se estava na tua barriga, como é que saí?”
Bom, sabemos que umas perguntas levam, recorrentemente, a
outras, sendo que da primeira poderá, em determinadas ocasiões, surgir esta
última. Explicar que a criança nasce através da vagina não é problemático,
sendo, aliás, aconselhável. Iludir a criança e utilizar vocabulário que
substituía aquilo que é pelo que não é torna-se confusional.
- “Porque é que sou diferente da minha irmã?”
A partir dos dois anos, aproximadamente, as crianças começam a
compreender as diferenças, a partir das descobertas que encetam a partir do seu
próprio corpo. Neste contexto, impõe-se a questão da diferença, sobretudo no
que respeita ao feminino e ao masculino. Nesse sentido, devolver à criança que
de facto é um menino e, como tal, é como os outros meninos e que a irmã é como
as meninas é quanto basta para que a criança perceba que, efectivamente, existe
uma diferença.
O Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira
Sem comentários:
Enviar um comentário