Li, num
dia de sol sem sombra de mau tempo, que o ciúme é como o sal enquanto tempero: na
medida certa a relação é degustada com imenso prazer mas, em excesso, torna o
relacionamento intragável…
“ O
cíume, (…) é considerado uma das emoções potencialmente mais destrutivas nas
relações de amor e é definido como uma reacção emocional aversiva desencadeada
por uma relação entre um dos parceiros e uma terceira pessoa.” (Narciso e Ribeiro, 2009)
As
mesmas autoras referem ainda de que o ciúme pode também ser desencadeado pelo
envolvimento do outro, num interesse ou actividade que compita com a atenção do
parceiro.
- Tenho uma amiga que diz que , por mais que tente relativizar a reacção que lhe provoca o
afecto e o cuidado, quanto a si excessivo, que o marido dedica às suas cadelas, não consegue deixar de ver nisso um sinal de uma certa irritação desmesurada pela atenção
despendida por ele a elas e não a si… enfim, ninguém é perfeito… -
Mas,
continuando, parece que , de acordo com estas mesmas autoras, " o ciúme incluí três componentes": cognitivo, medo da potencial perda do parceiro, operacionalizada em pensamentos obsessivos;
afectivo, traduzido em sentimentos tais como: zanga, ressentimentos, medo,
insegurança, tristeza, etc.; e comportamental, expresso de uma forma mais crua
e descontrolada em tentativas de controlar ou punir o parceiro.
- Não me parece que essa minha amiga tenha sido contaminada por algum destes componentes mas, segundo ela, há um lado seu que, às
vezes, ainda acha que o olhar de uma delas é, no mínimo, desafiador, quando a fixa perante o seu gesto afectivo para com o seu marido… -
Bom,
adiante. O ciúme, em doses mínimas de tempero, não significa que se esteja necessariamente perante algo mais patológico e disfuncional;
o problema surge e aí o desgaste da relação pode instalar-se, quando reacções intensas deste sentimento afectam negativa e profundamente o relacionamento
afectivo.
Dizem
os entendidos destas coisas do amor de que padrões de vinculação inseguros,
baixa auto-estima, níveis elevados de ansiedade, experiências passadas
traumáticas ( abandonos inesperados de parceiros/as) podem provocar medo,
angústia e insegurança em
relacionamentos futuros.
E que "... os homens ciumentos tendem mais a reagir de modo a aumentar a sua auto-estima, o que frequentemente se traduz por comportamentos negativos, enquanto as mulheres ciumentas tendem principalmente a realizar esforços para enriquecer a relação, tais como tornarem--se mais atractivas, falar sobre o assunto e aprender algo com a situação "
- Qual é o tamanho do meu sofrimento?
- Consigo funcionar no meu dia a dia sem deixar que o ciúme me assalte o pensamento e me deixe incapaz de prosseguir as tarefas ficando absorto por este sentir?
- De que/quem desconfio? Essa desconfiança é minimamente credível?
- Será que tenho mesmo motivos para desconfiar do meu parceiro/a?
- Este constante ciúme atrapalha a minha relação?
Coloque
a si estas questões; reflita sobre elas; quem sabe não o/a ajudam a mudar o seu olhar sobre estas coisas “maléficas” do amor e finalmente consiga perceber se o que sente, é só um tempero saudável ou se, pelo contrário,
é algo disfuncional que deixa a sua relação intragável…
- Recomendei à minha amiga que fizesse também ela este exercício e parece que afinal descobriu de que as suas cadelas, não são mais de que uma forma afectiva
e comum do casal partilhar estas coisas simples e bonitas do amor… -
Deixo-vos
com uma frase de Camilo Castelo Branco ( sim, porque isto do ciúme não é uma coisa
dos tempos modernos é algo absolutamente intemporal…)
“ É
espantoso como o ciúme, que passa o tempo a fazer pequenas suposições em falso,
tem pouca imaginação quando se trata de descobrir a verdade”
Ana de Ornelas
O Canto da Psicologia
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