quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Ciúme? Nem sei o que é isso...






Li, num dia de sol sem sombra de mau tempo, que o ciúme é como o sal enquanto tempero: na medida certa a relação é degustada com imenso prazer mas, em excesso, torna o relacionamento intragável…

“ O cíume, (…) é considerado uma das emoções potencialmente mais destrutivas nas relações de amor e é definido como uma reacção emocional aversiva desencadeada por uma relação entre um dos parceiros e uma terceira pessoa.” (Narciso  e Ribeiro, 2009)
As mesmas autoras referem ainda de que o ciúme pode também ser desencadeado pelo envolvimento do outro, num interesse ou actividade que compita com a atenção do parceiro.


- Tenho uma amiga que diz que , por mais que  tente relativizar a reacção que lhe provoca o afecto e o cuidado, quanto a si excessivo, que o  marido dedica às suas cadelas, não consegue deixar de ver nisso  um sinal de uma certa irritação  desmesurada pela atenção despendida por ele a elas e não a si… enfim, ninguém é perfeito… -


Mas, continuando, parece que , de acordo com estas mesmas autoras, " o ciúme incluí três componentes": cognitivo, medo da potencial perda do parceiro, operacionalizada em pensamentos obsessivos; afectivo, traduzido em sentimentos tais como: zanga, ressentimentos, medo, insegurança, tristeza, etc.; e comportamental, expresso de uma forma mais crua e descontrolada em tentativas de controlar ou punir o parceiro.


- Não me parece que essa minha amiga tenha sido contaminada por algum destes componentes mas, segundo ela, há um lado seu que, às vezes, ainda acha que o olhar de uma delas é, no mínimo, desafiador, quando a fixa perante o seu gesto afectivo para com o seu marido… - 


Bom, adiante. O ciúme, em doses mínimas de tempero, não significa que se esteja necessariamente perante algo mais patológico e disfuncional;  o problema surge e aí  o desgaste da relação pode instalar-se, quando reacções intensas deste sentimento afectam negativa e profundamente o relacionamento afectivo.

Dizem os entendidos destas coisas do amor de que padrões de vinculação inseguros, baixa auto-estima, níveis elevados de ansiedade, experiências passadas traumáticas ( abandonos inesperados de parceiros/as) podem provocar medo, angústia e  insegurança em relacionamentos futuros.

E que "... os homens ciumentos tendem mais a reagir de modo a aumentar a sua auto-estima, o que frequentemente se traduz por comportamentos negativos, enquanto as mulheres ciumentas tendem principalmente a realizar esforços para enriquecer a relação, tais como tornarem--se mais atractivas, falar sobre o assunto e aprender algo com a situação " 

  • Qual é o tamanho do meu sofrimento?
  • Consigo funcionar no meu dia a dia sem deixar que o ciúme me assalte o pensamento e me deixe incapaz de prosseguir as tarefas ficando absorto por este sentir?
  • De que/quem desconfio? Essa desconfiança é minimamente credível?
  • Será que tenho mesmo motivos para desconfiar do meu parceiro/a?
  • Este constante ciúme atrapalha a minha relação?


Coloque a si estas questões; reflita sobre elas; quem sabe não o/a ajudam a mudar o seu olhar sobre estas coisas “maléficas” do amor e  finalmente consiga perceber se o que sente, é só um tempero saudável ou se, pelo contrário, é algo disfuncional que deixa a sua relação intragável…


- Recomendei à minha amiga que fizesse também ela este exercício e parece que afinal descobriu  de que as suas cadelas, não são  mais de que uma forma afectiva e comum do casal partilhar estas coisas simples e bonitas do amor… -


Deixo-vos com uma frase de Camilo Castelo Branco ( sim, porque isto do ciúme não é uma coisa dos tempos modernos é algo absolutamente intemporal…)

É espantoso como o ciúme, que passa o tempo a fazer pequenas suposições em falso, tem pouca imaginação quando se trata de descobrir a verdade”





Ana de Ornelas
O Canto da Psicologia




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