Nos últimos anos, parece ser cada vez
mais frequente o recurso ao termo “doença psicossomática” (ou a expressões que
dela derivam), quer seja por médicos, outros profissionais de saúde ou pelas
pessoas, no seu quotidiano. Na clínica, assistimos a um crescimento de
pacientes cujo motivo do pedido de ajuda se inscreve na procura do alívio de
sintomas relacionados com este tipo de sintomas. Mas, então, que coisas são
estas que a boca cala e que o corpo fala?
É, sobretudo, após a primeira guerra
mundial que se massifica a procura de respostas para várias formas de
adoecimento, emergidas nos indivíduos que estiveram em pleno campo de batalha e
em contexto traumático, para os quais a medicina, per si, parecia não encontrar resposta. Vai-se, então, esgrimindo
uma nova visão das doenças, as quais começam a ser entendidas como parte de um
processo mais amplo do que apenas os sintomas manifestados.
Quando falamos em doença
psicossomática, queremos com isto dizer que a causa é influenciada por factores
psicológicos, não com isto negando as evidências clínicas, detectáveis por
exames médicos minuciosos. De facto, o corpo comunica um mal estar psíquico,
através de sinais e manifestações físicas, tangíveis a uma observação clínica,
mas para as quais não é possível encontrar uma causa orgânica ou biológica.
Quando isto sucede, são os próprios médicos que, frequentemente, informam o
doente que não encontram nada que explique os picos de febre que se instalam,
as consecutivas gripes, a permanente dor num braço ou as dores de cabeça que
emergem ciclicamente.
Para a psicologia e para a psicanálise,
somatizar é, então, manifestar no corpo, em forma de uma doença ou de um
sintoma, algum conflito emocional, o qual se encontra a um nível inconsciente
para a pessoa. De uma maneira
geral, o que acontece é que determinadas emoções ou afectos ficam retidos no
psiquismo do sujeito, fazendo com que este não aceda, nem elabore tais afectos.
Isto mantém o organismo num estado de tensão, que facilita ou promove o
desenvolvimento de perturbações psicossomáticas. Deste modo, aquilo que não pode ser falado ou pensado, é comunicado
através do corpo.
A intensidade com que cada pessoa
somatiza depende de um conjunto de factores intrapsíquicos, embora saibamos que
este fenómeno pode circunscrever-se a quadros sintomatológicos mais simples ou
a outros mais complexos: desde o aluno ansioso, que, em véspera de exame, fica
com intensas dores de estômago, ou o sujeito deprimido que desenvolve uma
doença auto-imune, como o lúpus.
A psicoterapia, enquanto processo de
"cura pela palavra”, constitui uma ferramenta ímpar no tratamento clínico
deste tipo de adoecimentos somáticos, na medida em que aquilo que não pode ser
pensado pelo próprio sujeito, passa a ser elaborado na relação terapêutica.
O
Canto da Psicologia,
Dr.ª Joana Alves Ferreira
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