Perder alguém que amamos
profundamente é a experiência mais devastadora vivenciada por cada um de nós.
Todo o vínculo significativo estabelecido tem uma forte influência na definição
identitária do ser humano. Somos filhos da Amélia e do Eusébio, irmãos da
Carminho e do Manuel, netos da Maria e do António, sobrinhos da Júlia e do
Francisco, Pais (com quem nos emparelhámos na dança dos dias) daqueles pelos
quais dávamos a vida. Somos também tios, avós, primos, amantes e amigos dos que
nos ajudam a creScER. Tantos outros somos somos que tanta
gente fazemos ser!
Podemos sentir-nos tão
mais internamente ricos quanto mais laços de afecto temos nutridos (e fazemos
nutrir). O preço inevitável a pagar por esta experiência que justifica a nossa
existência – o amor – é a tal experiência – o Luto (a dor pelo desaparecimento
de quem deixa de ser do nosso ser). O luto é o preço a pagar por amarmos.
Parece apocalíptico mas a equação é fácil e julgo que estaremos todos de acordo
de que quanto mais amamos, mais dor sentimos quando alguém nos morre.
Patologizar esta experiência universal pode ser perigoso na medida em que ter-se-ia
que redefinir o amor como um agente patogénico. Um luto pode ser complicar-se
bastante, considerando-se um luto complicado, mas numa visão humanista e
humanizada não deve ser denominado de patológico.
Na angústia da dor que
lhe aperta o coração, no tráfego caótico das lágrimas que lhe congestionam o
rosto, no movimento pesado que parece ter o efeito de um íman ao levar-lhe
constantemente para a cama, lembre-se: Está a sofrer! E está a sofrer porque
ama e foi amado. Está a sofrer porque quer continuar a amar e a ser amado!
E mesmo que esteja
eufórico – lamento desapontá-lo - está a sofrer porque ama e foi amado. Está a
sofrer porque quer continuar a amar e a ser amado.
Tanto o excesso como o
défice escondem uma falta imensa de contacto, de afecto.
Cuide da sua dor.
O objetivo de um espaço
terapêutico no luto é o de acompanhar a pessoa num espaço de segurança,
confiança, respeito e de não patologização, no processo difícil de aprender a
viver sem o ente querido; acompanhar na adaptação a uma realidade em que nada
volta a ser o mesmo, nem sequer o próprio, sendo importante que a pessoa
integre, ao seu ritmo, a perda na sua nova identidade para que o luto não se
complique e origine situações de maior mal-estar.
André Viegas
Psicólogo Clínico e Terapeuta do Luto
O Canto da Psicologia
Sem comentários:
Enviar um comentário