quinta-feira, 21 de setembro de 2017

A beleza e o amor...









A beleza, sabemos, é subjetiva. Já diz o velho ditado “Quem feio ama, bonito lhe parece”.
A beleza provém de um olhar, de alguém que olha, de um olhar que reconhece o outro. É um olhar que veicula o investimento num Outro. Um que investindo o Outro com essa qualidade lhe permite sentir-se dessa forma, belo. Como os pais investem o seu bebé.

Ser belo é ser-se reconhecido. Ser belo é o sentimento de ser olhado e olhar-se com amor.

Os conceitos de auto-estima e auto-imagem condensam isto de que falo. Trata-se do trazemos dentro, que nos carrega de pensamentos sobre nós próprios, que nos atribui determinadas qualidades (em junção com as intrínsecas claro está), que nos dá referências estruturais sobre a forma como nos vemos e nos sentimos. Dizer que aquela pessoa não tem auto-estima (como muitas vezes se ouve em consultório ou fora dele) é reportar-se à história daquele indivíduo. Que traços o definirão? Como terá sido investido? Ter-lhe-á sido possível aprender a amar-se a si próprio e portanto a sentir-se belo?
Sentir-se belo tem mais que ver com o que se traz dentro e com o que o outro significativo inscreveu, do que com o que se vê quando se olha ao espelho.

É curioso observar como a forma como nos sentimos influencia por vezes a forma como nos avaliamos a este nível. Vemo-nos belos se nos sentimos felizes, vemo-nos belos se nos sentimos capazes, se nos sentimos amados, desejados. Quem, apesar de julgado belo pelos outros, nunca passou por momentos em que se sentiu à mesma “feio”? Talvez porque houvesse algo interiormente que o fazia sentir desapontado, porque havia um obstáculo interno a que se pudesse apreciar a si mesmo...
Um caráter mais permanente de um sentir deste tipo, de um impedimento a que o próprio se possa apreciar, aproxima-se já de um valor patológico.

Também é curioso constatar que muitas vezes as pessoas se consideram ou são consideradas mais bonitas à medida que amadurecem. Tornam-se mais conhecedoras de si mesmas, mais conscientes do que são e de para onde querem ir, mais tolerantes mas também mais seletivas. Tiveram com certeza oportunidade de transformar em si eventuais obstáculos à apreciação de si mesmas.

O amor por si próprio e o amor pelo outro carregam um sentido de beleza, são o seu sustento. 



Drª Filipa Rosário
O Canto da Psicologia



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