A beleza,
sabemos, é subjetiva. Já diz o velho ditado “Quem feio ama, bonito lhe parece”.
A beleza
provém de um olhar, de alguém que olha, de um olhar que reconhece o outro. É um
olhar que veicula o investimento num Outro. Um que investindo o Outro com essa
qualidade lhe permite sentir-se dessa forma, belo. Como os pais investem o seu
bebé.
Ser belo é
ser-se reconhecido. Ser belo é o sentimento de ser olhado e olhar-se com amor.
Os conceitos
de auto-estima e auto-imagem condensam isto de que falo. Trata-se do trazemos dentro,
que nos carrega de pensamentos sobre nós próprios, que nos atribui determinadas
qualidades (em junção com as intrínsecas claro está), que nos dá referências
estruturais sobre a forma como nos vemos e nos sentimos. Dizer que aquela
pessoa não tem auto-estima (como muitas vezes se ouve em consultório ou fora
dele) é reportar-se à história daquele indivíduo. Que traços o definirão? Como
terá sido investido? Ter-lhe-á sido possível aprender a amar-se a si próprio e
portanto a sentir-se belo?
Sentir-se
belo tem mais que ver com o que se traz dentro e com o que o outro
significativo inscreveu, do que com o que se vê quando se olha ao espelho.
É curioso
observar como a forma como nos sentimos influencia por vezes a forma como nos
avaliamos a este nível. Vemo-nos belos se nos sentimos felizes, vemo-nos belos
se nos sentimos capazes, se nos sentimos amados, desejados. Quem, apesar de
julgado belo pelos outros, nunca passou por momentos em que se sentiu à mesma “feio”?
Talvez porque houvesse algo interiormente que o fazia sentir desapontado,
porque havia um obstáculo interno a que se pudesse apreciar a si mesmo...
Um caráter
mais permanente de um sentir deste tipo, de um impedimento a que o próprio se
possa apreciar, aproxima-se já de um valor patológico.
Também é
curioso constatar que muitas vezes as pessoas se consideram ou são consideradas
mais bonitas à medida que amadurecem. Tornam-se mais conhecedoras de si mesmas,
mais conscientes do que são e de para onde querem ir, mais tolerantes mas
também mais seletivas. Tiveram com certeza oportunidade de transformar em si
eventuais obstáculos à apreciação de si mesmas.
O amor por
si próprio e o amor pelo outro carregam um sentido de beleza, são o seu
sustento.
Drª Filipa Rosário
O Canto da Psicologia
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