Agora…
Atropelada.
Em apneia. Nos mínimos.
Já passaram por fases assim? Digo fases porque sei
que nada dura para sempre. Não há nenhuma situação que estejamos a viver que
permaneça dessa forma, exatamente assim por tempo indeterminado.
Os dias não param. A vida também não, e todos os
dias o sol e a lua nos brindam à sua maneira…
Mas momentos destes, em que somos atropelados pela
vida, e devastados por sentimentos difíceis de suportar, às vezes penso como
gostaria que estes dois (o sol e a lua) ficassem também em apneia e me dessem
tempo para chorar, gritar, dormir, lamber feridas e encolher-me numa bola de
dor.
Mas não. E os dias chegam, e continuo a ter que
arranjar força para trabalhar, e sobretudo para que o meu filho não se percebe desta
parede que estava no meio da estrada e na qual embati com toda a força.
Dizer que não tenho medo estaria a mentir.
Voltaram os tremores a meio do dia e que do nada que
me toldam os movimentos e o pensamento. O aperto no peito como se o elefante
estivesse a fazer peso morto.
Penso em como as decisões que tomamos nos trazem e
levam pela nossa vida fora.
Mas será que somos sempre responsáveis, nós e só nós
pela vida que temos? Não sei. Aparentemente deveria ser assim. Mas não
controlamos tudo, muito menos os outros e as decisões que eles tomam e forma
como isso tantas vezes nos magoa e nos desilude. Por isso não posso deixar que
a maldita culpa venha também entrar nesta longa lista de espera de sentimentos
maus que teimam em querer invadir a minha vida.
Tento conjugar o verbo querer, neste meu presente,
mas de forma quase impossível eu sei. “Eu queria” é, e reparem na ironia, o
verbo querer no Pretérito imperfeito do
indicativo! É mesmo isso, imperfeito querer uma coisa que é impossível, que não
depende só de nós.
“Eu queria que nada disto estivesse a acontecer”.
“Eu só queria ser feliz”.
“Eu só queria uma vida tranquila”.
… assim escrito e lido tem um efeito diferente por
acaso… parece autocomiseração e essa ideia eu não gosto.
Não gosto porque não é disso que se trata.
Trata-se sim de esperar, quieta no canto até que doa
um pouco menos.
Tratar as feridas que insistem em abrir, e uma vez
mais esperar.
Trata-se tão somente de esperar, e ser paciente com
o presente.
Trata-se de perceber que não tenho de tomar decisões
que neste momento seriam tomadas assentes em tristeza e em desilusão.
Trata-se de confiar que tudo acaba por se resolver e
haver um caminho.
Trata-se de não me obrigar a fazer mais do que
aquilo que neste momento sou capaz.
Só depois desta espera, que espero me traga forças,
começar então a tentar todos os dias, um bocadinho de cada vez, aceitar o que
me atropelou outra vez não me matou, mas sim mostrou-me que afinal sou mais
forte do que pensei.
Petra
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