quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A mulher mais bonita lá da rua...







No outro dia voltei a ver a mulher mais bonita lá da rua.

Continua indomavelmente bonita e tratava do jardim.

A mulher mais bonita lá da rua deu-me três amigos, gosta de gatos, socialistas e sportinguistas. Tem rosto de maçã e deixava-me tocar viola. Fui mais menino e adolescente nos serões que dividimos na sua sala.

A mulher mais bonita lá da rua ouvia-me, conhecia-me todas as asneiradas e namoradas. Não é família e isso ainda a torna mais bonita não sei porquê, mas sabe-me bem não saber.

A mulher mais bonita lá da rua é realeza porque se chama Clarisse Virgínia, graça que nos inunda de respeito.

No outro dia voltei a ver a mulher mais bonita lá da rua. Continua irremediavelmente bonita.

Nunca chamei amiga, querida e muito menos vizinha à Dona Clarisse. Também jamais tive coragem de lhe dizer todas as coisas que ela é e ela é a mulher mais bonita lá da rua.

Quando perder de vez a pouca vergonha que me deram, ainda visto meu melhor fato e levo-a a passear.

É o desejo de um antigo menino que se sentava do outro lado do muro, de brinquedo na mão a ver a tarde passar pela mulher mais bonita lá da rua.



FILIPE ALEXANDRE DIAS
O Canto da Psicologia


Sem comentários:

Enviar um comentário