No outro dia voltei a ver a mulher mais
bonita lá da rua.
Continua indomavelmente bonita e tratava do
jardim.
A mulher mais bonita lá da rua deu-me três
amigos, gosta de gatos, socialistas e sportinguistas. Tem rosto de maçã e
deixava-me tocar viola. Fui mais menino e adolescente nos serões que dividimos
na sua sala.
A mulher mais bonita lá da rua ouvia-me,
conhecia-me todas as asneiradas e namoradas. Não é família e isso ainda a torna
mais bonita não sei porquê, mas sabe-me bem não saber.
A mulher mais bonita lá da rua é realeza
porque se chama Clarisse Virgínia, graça que nos inunda de respeito.
No outro dia voltei a ver a mulher mais
bonita lá da rua. Continua irremediavelmente bonita.
Nunca chamei amiga, querida e muito menos
vizinha à Dona Clarisse. Também jamais tive coragem de lhe dizer todas as
coisas que ela é e ela é a mulher mais bonita lá da rua.
Quando perder de vez a pouca vergonha que me
deram, ainda visto meu melhor fato e levo-a a passear.
É o desejo de um antigo menino que se
sentava do outro lado do muro, de brinquedo na mão a ver a tarde passar pela
mulher mais bonita lá da rua.
FILIPE ALEXANDRE DIAS
O Canto da Psicologia
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