quarta-feira, 4 de setembro de 2013


4 de Setembro

As férias acabaram e desde segunda-feira que ando em ritmo frenético. O confronto com a realidade num “pós-férias” é, de facto, difícil e aqui por casa não tem sido excepção. O impacto silencioso do reencontro com a nossa casa, que parecia esperar por nós numa espécie de promessa de tranquilidade, rapidamente caiu por terra, qual fantasia criada por mim! E foi então substituído pelas luzes e vozes que circulam de um lado para o outro, as tarefas e os desígnios que cada um vai tendo (e que, continuam a recair sobre mim), as compras que há para fazer, a roupa que há para organizar, os livros dos miúdos para encomendar e, de repente: SOCORRO! Venho de férias e é isto que me espera?!

Sinto-me já cansada e ainda agora regressei! E isso assusta-me de algum modo, porque sei o que tenho pela frente: um longo ano de trabalho, de dedicação, e este contraste com o que foram as férias é demasiado violento … Sobretudo depois destas férias que foram de algum modo serenas. Bom, para dizer a verdade, serenas mais nos últimos dias do que propriamente nos primeiros, onde consegui finalmente ir deixando este meu lado que me persegue do que ficou por fazer.

Espanta-me, pelo contrário, a leveza com que o meu marido faz o corte para com tudo isto e inicia os dias de descanso como se a realidade a que pertence já não lhe pertencesse! E é com essa mesma facilidade que retoma o trabalho, como se as férias tivessem ficado arrumadas num canto e agora voltasse à pele que habita no dia-a-dia. E confesso: isto irrita-me! Irrita-me solenemente! Esta passividade com que tudo parece tão fácil para ele! E, depois, claro que me queixo. Queixo-me, porque no fundo, ele não organiza, não arruma e, no limite, ainda sou eu que lhe faço a mala!

(... Parece que estou já a ver o tema desta semana para a sessão ...)


- Bom dia, Madalena!

Agora sim, sinto-me verdadeiramente serena. E percebo a falta que este espaço me fez nesta interrupção! Percebo também que isto a que chamo de serenidade nas férias, parece ser uma “falsa serenidade” – enquanto nos primeiros dias vou carregada de angústia do que fica para trás, nos últimos, que supostamente foram mais tranquilos, começa a surgir a angústia do que irei reencontrar… E, mesmo aqui, com a terapeuta, mais uma vez hesitei sobre o dia da sessão! Como ela diz e bem “tinha medo que me tivesse esquecido de si”.

E como se não bastasse, acabo por compreender que estas coisas andam mesmo todas ligadas e que o que tanto me irrita no meu marido é precisamente sentir que ele é capaz de fazer aquilo que eu, no fundo, também gostaria de fazer! Mas que, pelo contrário, eu sofro, eu angustio, eu sinto-me insegura e todas as mudanças são coisas muito difíceis para mim.

E saio, levando presente aquela pequena Madalena para quem separar-se da mãe era um tormento, como falávamos na última sessão e a terapeuta me recordou… (entretanto, acho que já tinha esquecido).

1 comentário:

  1. Como sempre, as postagens que partilham nos levam a ricas reflexões. Admiro como aqui, em um espaço virtual e pequeno, conseguem aprofundar reflexões tão necessárias ao nosso dia a dia! É mesmo habilidade e competência!
    Bem, senti bastante falta da Terapia de Madalena neste longo período de um mês de férias! Aqui, já vai se tornando um espaço de encontro com minhas questões, trazidas à tona através dos exemplos dela, o que me enriquece e ajuda a crescer.
    Hoje, particularmente, senti uma ênfase na quebra entre a rotina e as férias. O que será que causa uma quebra? Será que em uma rotina harmoniosa há também uma quebra entre ela e as férias? Ou as duas sendo prazerosas, apenas uma é mais prazerosa do que a outra? Isto me sugere um só fluxo, sem quebras, mas com intensidades diferentes...(talvez utópico, não sei...)
    Vou refletindo...vou lendo e relendo, cada vez retirando mais substratos...penso sobre a dicotomia passividade X sobrecarga...enfim, há muito ainda o que refletir!
    Mas adorei mesmo o retorno deste espaço!
    SEJA BEM VINDA, MADALENA!!!

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