quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Quarta-feira, 18 de Setembro de 2013

Não tenho dado notícias aqui pelo meu Diário. Retomo hoje, mas confesso que sem saber exatamente o que dizer. Podia argumentar com grande preceito que tive semanas agitadíssimas, entre o regresso às aulas dos miúdos, a adaptação a uma nova rotina que entretanto me parecia já longínqua, os processos e o trabalho pendente que se condensa entre Agosto e Setembro. E podia, porque me reconheço nessas habilidades, defender esta minha tese “com unhas e dentes”, sem deixar espaço para dúvidas. Afinal, fui para Direito, sou advogada e a minha vida tem sido passada num constante exercício de argumentação.

Mas, há uma verdade que vai passando este lado que conheço de mim, e que se impõe perante os meus olhos e que me deixa quase sem chão: tudo isto que escrevo não é mentira nenhuma. Mas sei que o me fez ausentar foi uma outra coisa, como se sentisse um impedimento de ir à sessão na última semana ao qual não sei dar nome. E custa-me, porque não houve atrasos, não houve trânsito, não houve… argumentos. Houve, antes de tudo, uma vontade enorme de não ir àquele espaço que, ainda na sessão anterior, reconhecia como importante e seguro! Agora, neste preciso momento, sinto-me esquisita e incompreensível, perdida entre estes dois lados: um, que vai e que quer ir, que pensou com a terapeuta que é ali que encontro a minha tranquilidade (que é ali que me reencontro e outro), e outro, que com grande audácia faltou na semana passada, avisando com uma breve mensagem – “Bom dia, Dr.ª. Hoje não vou conseguir ir à sessão”. E sinto que estou a errar, porque no fundo sei para mim mesma que isso do “não vou conseguir ir à sessão” é uma meia verdade, que tem em si uma meia mentira.

- Bom dia, Madalena!

E ao fim de alguns, largos, minutos de silêncio, entre um medo enorme de dizer o que sinto, fui capaz de o fazer! E, sim! Explicando à terapeuta o quanto me senti pouco credível na mensagem que lhe enviei, como se não estivesse sido absolutamente honesta com ela. Quando, para minha surpresa, ela foi capaz de entender que é como se existissem mesmos dois lados, duas vontades, dois desejos contraditórios – um de ir e outro de não querer confrontar-me com aspectos meus que são dolorosos. E que, perante isto, a mensagem faz, afinal, todo o sentido: houve um lado meu que, de facto, não conseguia ir à sessão.

E depois de muito pensarmos em conjunto (de tanto que pensei, pensámos, há coisas das quais não me recordo), percebo claramente que as minhas defesas apareceram num momento em que me vi por inteiro num papel que me pertence há muito e muito tempo, este da mulher que faz tudo, da filha que tudo faz, da mãe incansável e da colega irrepreensível, e o quanto esse confronto é difícil! Mas saí, embalada e reconfortada com esta frase que me fica “esse caminho, que pode ser doloroso em alguns momentos, a Madalena não terá que fazer sozinha. Eu estou aqui, mesmo quando decide não vir, à sua espera.”

(E eu que julgava que ninguém esperava por mim…)


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