quinta-feira, 9 de março de 2017

Um elogio ao feminino...









Toda mulher parece com uma árvore. Nas camadas mais profundas de sua alma ela abriga raízes vitais que puxam a energia das profundezas para cima, para nutrir suas folhas, flores e frutos. Ninguém compreende de onde uma mulher retira tanta força, tanta esperança, tanta vida. Mesmo quando são cortadas, tolhidas, retalhadas, de suas raízes ainda nascem brotos que vão trazer tudo de volta à vida outra vez.”
Clarissa Pinkola

Ontem foi o dia da mulher, mas há tanto para refletir, que um dia é pouco, para a complexidade do tema. Sobre o ter um dia dedicado a esta celebração, penso que justifica-se, na medida em que foram muitos os sofrimentos, guerras e conquistas das mulheres ao longo dos tempos. É importante relembrar sobre a nossa evolução e história, se recordarmos há 30 anos atrás, a mulher não podia exercer o seu voto, não podia sair do País sem autorização do marido, saia da casa dos pais para casar com o noivo, num ato de passagem, paternalista e condescendente, de pai para o marido. A mulher tinha pouca voz, sucumbia aos desejos do outro, raramente se impunha, ou partilhava as suas próprias ideias, só mesmo em famílias muito evoluídas e especiais é que tal acontecia.

Neste contexto é incrível pensarmos, mas não foi há muito tempo, que as mulheres estavam desprovidas dos seus direitos nomeadamente, identitários, de ter uma voz e um desejo próprio. De certa forma, este inconsciente coletivo, mantêm-se mesmo que conscientemente, se considere que já ultrapassamos estas barreiras, com o surgimento das leis, mas na realidade, sabemos que não é bem assim.

Continuamos a observar notícias diárias, de violência contra as mulheres, todos os anos, em 2015 morreram em Portugal, 40 mulheres e em 2016, foram 30, sendo que pelo menos 19 mulheres são vítimas, todos os dias, de Violência Doméstica (dados retirados da APAV).
Com estes indicadores chocantes e alarmantes, conseguimos ter uma noção, mais clara, de que os direitos da mulher ainda estão em vias de ser implementados, apesar de a violência doméstica estar legislada como crime público. As leis existem, mas na prática o que vem à tona são os modelos relacionais patológicos, ainda enraizados nos preconceitos e na discriminação, quiçá de influência judaico-cristã.



 A mulher ainda está incluída nos grupos “minoritários” não por estar em minoria, mas devido a, por vezes, não investirem numa postura de autodefesa, proteção e enaltecimento do papel da mulher na sociedade e na família. Estes ciclos de violência são transgeracionais e, em certas situações, até as próprias mulheres os podem alimentar, através da forma como educam as suas filhas e seus filhos, assim como, os pais.

Assistimos, desta forma, a uma violência exacerbada e continuada contra a mulher em pleno século XXI. Foram alcançados tantos direitos, no entanto, a força da cultura, da educação dos estilos relacionais ainda falam mais alto, mesmo que pensemos que não. Na verdade são ideias automáticas e inconscientes, que dificilmente são consciencializadas, mesmo que consideremos ter horizontes abertos e grande capacidade de evolução.
A questão não é assim tão fácil, as mulheres em termos societários continuam a ter, de uma forma generalizada, ordenados mais baixos do que os homens, em Portugal, apenas têm direito a 6 meses de baixa de maternidade. Todos estes dados, aparentemente, inofensivos traduzem muito sobre a nossa sociedade, em que ponto está e o quanto, ainda, há para percorrer.

 Infelizmente, em algumas relações afetivas, está presente uma discriminação grave, a existência de relações tóxicas, com padrões desviantes de masoquismo e sadismo, são ligações narcísicas e perversas, de controlo, poder e submissão identitária ao outro. A higienização relacional implica uma mudança de paradigma, sobre o que é considerado saudável ou não nas posturas e atitudes relacionais. Uma relação saudável implica que cada um esteja na relação por inteiro, com auto-estima e com um narcisismo bem nutrido. Narcisismo, este que é construído, na infância e com relações de qualidade com os mais significativos.

Deste modo o feminino que representa a criação, o amor oblativo, a vida, ainda tem de ser respeitado, amado, na liberdade, pois quando se ama o outro, o nosso coração se alegra com a sua felicidade, luz e sucesso.


Dra Mafalda Leite Borges

O Canto da Psicologia



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