O jogo Baleia Azul tem estado a chocar o mundo! – Como é
possível que adolescentes, na flor da idade, se auto-mutilem, se castiguem e
procurem a morte? A perversão é feita pelo chamados “curadores” ou
“administradores” que aliciam e incitam os jovens a assumir comportamentos
auto-destrutivos, entendidos como “desafios”, em que o objetivo último é o
suicídio. Referem que estes “curadores” são, também, jovens com historial de
abusos e comportamentos disruptivos.
O nome “Baleia Azul” surge com base na crença de que as baleias azuis (os animais) dão à
costa voluntariamente com o intuito de perderem a vida, este jogo que começou
na Rússia, é composto por um total de 50 desafios diários. Cada desafio é
enviado diariamente pelo “curador” que pede provas (como fotografias ou vídeo) de que o
desafio foi cumprido na íntegra pelos jogadores que são, por norma,
adolescentes com problemas de depressão ou isolamento. Uma das premissas do
jogo é que se deve jogar até ao fim, sem desistências e sem contar a ninguém.
Quando assistimos a esta
crueldade, as questões que se impõem recaem sobre o que estão a sentir estes
jovens? Talvez se sintam sozinhos, perdidos, numa solidão permanente que
corrói, ameaça, deixa um vazio interior que é impossível de preencher e conter?
São jovens que se sentem, possivelmente, sós não por não terem uma família ou
pessoas à sua volta, pelo contrário, eles sentem a verdadeira solidão de quem
está junto mas é incompreendido, mal-amado. Onde estão as relações de qualidade
que são promovidas pelas famílias? Os afetos o estar presente de corpo e alma?
Onde estão as relações que alimentam a alma e o coração? Onde está a intimidade,
sentimento que se é compreendido e que se pode partilhar medos, alegrias e
pensamentos? Onde estão as famílias, essencialmente, apaziguadoras, presentes e
amáveis? E o amor que não julga, abafa e manipula, mas que sente, empatiza e
acalma, será que ficou de lado?
Estamos numa era narcisista do
parecer, em vez de ser, já não há espaço para as relações de qualidade que
promovem a felicidade e o bem estar.
Neste contexto é comum relacionar a fase da adolescência
com a ideia de que é um período conturbado dos jovens. Começam a surgir
conflitos com os pais, logo o afastamento da família e a aproximação aos
pares parece caracterizar o essencial na vida de um adolescente. O jovem sente
que tem de pertencer a um grupo, com determinados ideais que se coadunam com a
sua identidade.
Contudo a adolescência nem sempre
é considerada como um período de crise por si só. Esta fase pode ser vivida com
entusiasmo e alegria, apesar de algumas inseguranças e medos que acabam por
acompanhar de forma distinta todas as idades.
Até que ponto devemos considerar
a adolescência como uma crise certa, considerando esta assunção, como uma
verdade indubitável? As situações alarmantes na adolescência tais como,
agressividade, delinquência, depressão, toxicodependências, são o
resultado de diversos fatores, sendo que a micro-cultura familiar, apresenta
uma influência marcada, no desenvolvimento destas perturbações.
O problema do adolescente (ou o
da criança) é na realidade, frequentemente, o problema da família nuclear, isto
é, o da dinâmica relacional assumida.
O adolescente quando apresenta
uma boa “nutrição narcísica”, ou seja, um bom desenvolvimento psicológico
/relacional, acaba por ter uma estrutura psíquica resiliente, pelo que a
probabilidade de se sentir atraído por comportamentos de risco, é muito menor
nomeadamente, drogas, suicidio, auto-mutilação.
É uma ilusão considerar que é
apenas a Internet ou outras causas externas, tais como, os grupos de amigos que
estimulam a depressão grave ou os comportamentos de violência e/ou as adições.
Uma boa educação emocional e afetiva, funciona como, um verdadeiro
“antibiótico” contra estas “bactérias” exteriores.
A escolha dos amigos está
intimamente relacionada com a qualidade das interações privilegiadas ao longo
do desenvolvimento. É importante perceber até que ponto o adolescente foi
amado e respeitado pelas figuras relacionais centrais. O amor dado foi
captativo, narcísico, de direitos e obrigações ou foi, altruísta, generoso, com
limites saudáveis e justos.
Na realidade a “ Baleia Azul” é
um sintoma que mascara uma sociedade doente emocionalmente, deve constituir um
alerta para abrir os olhos, de que devemos estar atentos e presentes ao que se
passa com as nossas crianças e adolescentes. E que, acima de tudo, devemos
promover relações de qualidade e de intimidade emocional.
Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia
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