“ (…) Para o psicólogo da minha filha a
culpa é sempre minha, porque eu faço isto e aquilo, devia fazer de outra
forma…porque deixo que ela faça tudo o que quer… sou permissiva e cedo sempre.
Sabe lá ele o que ela faz se lhe disser que não! Tenho que ir sempre
distraindo-a para a levar a bem se não…
Faça o que fizer a culpa é sempre minha…até
parece que eu é que a ponho assim!! “
As mães…as mães…como são importantes! É por vezes tão
difícil de explicar e transmitir-lhes a importância do seu papel, como das
mesmas o ouvirem, sem tricotar uma palavra mais assertiva ao rendilhado de
olhares e nós críticos do mundo exterior, suspensos no seu tear interno de
medos e inseguranças.
Eduardo Sá dizia “ As boas mães são chatas!”, e
atrevo-me a acrescentar tão chatas quão corajosamente medrosas. As boas mães,
ou mães suficientemente boas como dizia Winnicott, têm medo de verter aquela
lágrima no momento de maior fraqueza, de atrasar 5 minutos a hora de mamar, de
não valorizar aquela borbulha, de ralhar demais ou de menos, de não repetir
pela trigésima vez que o amam, de ter tempo para si, de não conseguir controlar
ao milímetro um coração que pula e bate fora delas, de serem iguais ás suas
próprias mães ou totalmente diferentes…têm medo de que façam mal ao seu
menino/a ou até bem demais, colocando em causa
o seu valor e alterando o poder do seu centro gravitacional no mundo
interno do seu rebento.
As boas mães são corajosamente medrosas porque, com
estes e tantos outros medos empoleirados nos seus ombros não baixam os braços,
não deitam a toalha ao chão e assumem a peito cheio que…ser mãe é a melhor
coisa do mundo.
“E a culpa é sempre da mãe? “
Não…de todo. Deixemos a culpa para os tribunais,
porque as cobranças ás heranças passadas levariam demasiado tempo e acabariam
num inabalável “a tua mãe, avó, bisavó…fez o que sabia de melhor na altura”. E
naturalmente isso seria quase uma
conclusão inquestionável, tornando ilógico cobrar ao passado um preço do
presente. Pensemos antes na responsabilidade que a figura materna assume desde
o primeiro olhar, toque, pensamento, palavra e desejo sobre o seu filho. É
expectável, que a par do choque à realidade extra-uterina, a primeira mancha
visual que o bebé percepciona seja a do rosto materno e, no mesmo registo, o
chorrilho de sons e palavras da sua voz, bem como, o seu cheiro e toque
totalmente novo e único. E esta sensação maravilhosa e “perigosa”, de receber
no colo pela primeira vez o ser com quem partilhámos o nosso corpo, deverá
perdurar em cada boa mãe até à despedida.
E é neste cordão umbilical invisível que se tricota a
relação basilar da vida emocional de um bebé, que se tornará criança, jovem e
finalmente adulto. E é exactamente neste cordão que cada filho aprenderá a
sentir, a viver e a crescer para o mundo, construindo a sua identidade e papel
na sociedade. Malha a malha há um cordão que se consolida, entrelaça e amarra
nas mais diversificadas vivências, do sorriso ao choro, bem como, da alegria à
dor.
A cada malha fugida neste tricot haverá uma lágrima,
outras um buraco ou espaço por preencher, um padrão interrompido que poderá
quebrar a harmonia e consistência de um cordão. Cordão este que se deseja
sempre perfeito…ou antes suficientemente bom, chato e corajosamente medroso,
para assumir a sua falha sem comprometer a sua força, dando espaço para ser
reparado e remendado com amor.
A culpa não é sempre da mãe, mas a responsabilidade de
segurar entre as mãos as agulhas que tricotam um cordão que cresce sobre o seu
colo sim…isso sim. E é essa a magia da maternidade…a melhor coisa do mundo!!
Drª Joana Cloetens
O Canto da Psicologia
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