quinta-feira, 10 de maio de 2018

A culpa é da mãe!!!






(…) Para o psicólogo da minha filha a culpa é sempre minha, porque eu faço isto e aquilo, devia fazer de outra forma…porque deixo que ela faça tudo o que quer… sou permissiva e cedo sempre. Sabe lá ele o que ela faz se lhe disser que não! Tenho que ir sempre distraindo-a para a levar a bem se não…
 Faça o que fizer a culpa é sempre minha…até parece que eu é que a ponho assim!! “

As mães…as mães…como são importantes! É por vezes tão difícil de explicar e transmitir-lhes a importância do seu papel, como das mesmas o ouvirem, sem tricotar uma palavra mais assertiva ao rendilhado de olhares e nós críticos do mundo exterior, suspensos no seu tear interno de medos e inseguranças.

Eduardo Sá dizia As boas mães são chatas!”, e atrevo-me a acrescentar tão chatas quão corajosamente medrosas. As boas mães, ou mães suficientemente boas como dizia Winnicott, têm medo de verter aquela lágrima no momento de maior fraqueza, de atrasar 5 minutos a hora de mamar, de não valorizar aquela borbulha, de ralhar demais ou de menos, de não repetir pela trigésima vez que o amam, de ter tempo para si, de não conseguir controlar ao milímetro um coração que pula e bate fora delas, de serem iguais ás suas próprias mães ou totalmente diferentes…têm medo de que façam mal ao seu menino/a ou até bem demais, colocando em causa  o seu valor e alterando o poder do seu centro gravitacional no mundo interno do seu rebento.
As boas mães são corajosamente medrosas porque, com estes e tantos outros medos empoleirados nos seus ombros não baixam os braços, não deitam a toalha ao chão e assumem a peito cheio que…ser mãe é a melhor coisa do mundo.
E a culpa é sempre da mãe? “

Não…de todo. Deixemos a culpa para os tribunais, porque as cobranças ás heranças passadas levariam demasiado tempo e acabariam num inabalável “a tua mãe, avó, bisavó…fez o que sabia de melhor na altura”. E naturalmente isso seria quase  uma conclusão inquestionável, tornando ilógico cobrar ao passado um preço do presente. Pensemos antes na responsabilidade que a figura materna assume desde o primeiro olhar, toque, pensamento, palavra e desejo sobre o seu filho. É expectável, que a par do choque à realidade extra-uterina, a primeira mancha visual que o bebé percepciona seja a do rosto materno e, no mesmo registo, o chorrilho de sons e palavras da sua voz, bem como, o seu cheiro e toque totalmente novo e único. E esta sensação maravilhosa e “perigosa”, de receber no colo pela primeira vez o ser com quem partilhámos o nosso corpo, deverá perdurar em cada boa mãe até à despedida.

E é neste cordão umbilical invisível que se tricota a relação basilar da vida emocional de um bebé, que se tornará criança, jovem e finalmente adulto. E é exactamente neste cordão que cada filho aprenderá a sentir, a viver e a crescer para o mundo, construindo a sua identidade e papel na sociedade. Malha a malha há um cordão que se consolida, entrelaça e amarra nas mais diversificadas vivências, do sorriso ao choro, bem como, da alegria à dor.

A cada malha fugida neste tricot haverá uma lágrima, outras um buraco ou espaço por preencher, um padrão interrompido que poderá quebrar a harmonia e consistência de um cordão. Cordão este que se deseja sempre perfeito…ou antes suficientemente bom, chato e corajosamente medroso, para assumir a sua falha sem comprometer a sua força, dando espaço para ser reparado e remendado com amor.

A culpa não é sempre da mãe, mas a responsabilidade de segurar entre as mãos as agulhas que tricotam um cordão que cresce sobre o seu colo sim…isso sim. E é essa a magia da maternidade…a melhor coisa do mundo!!

Drª Joana Cloetens
O Canto da Psicologia





Sem comentários:

Enviar um comentário