Nas
últimas décadas, a par dos inquestionáveis avanços tecnológicos ocorridos no
âmbito da saúde, verifica-se na prática clínica o crescente número de pedidos
de ajuda para um mal-estar cuja incidência nos consultórios aumenta a olhos
vistos. Não se trata, porém, de uma ocorrência inusitada no nosso campo de
saber: trata-se, antes, de uma queixa que parece veicular um mal-estar da
sociedade contemporânea e que se traduz numa angustia existencial quanto à
validade da existência em si. Mas o que é, então, “a patologia do vazio”?
Nestes pacientes, a queixa surge
predominantemente em torno de carências provenientes de falhas que se
instalaram nos primórdios do desenvolvimento emocional e que promoveram a
formação de verdadeiros “buracos negros” na formação do Eu. No decurso do
tratamento psicoterapêutico, estes estado emergem sob a forma de um estado
mental de desmotivação pela vida, num registo letárgico e monótono, marcado
pela ausência de aspirações ou expectativas. Surge, enquanto sintoma, representado
na depressão sem tristeza, nos transtornos alimentares, nas toxicomanias, na
violência vincular ou nas somatizações. O que o diferencia, contudo, de
qualquer outro diagnóstico é precisamente este núcleo do vazio afetivo.
Atualmente, algumas das pessoas
que procuram tratamento psicoterapêutico apresentam uma tendência que acompanha
o ritmo frenético civilizacional: uma busca incessante por soluções mais rápidas
e, alegando razões económicas que são, muitas vezes, reais (porque, de facto, o
poder económico diminuiu), insistem em ter um menor número de sessões, além de
uma duração mais curta da psicoterapia. Este é um dos obstáculos à prática
clínica atual, sobretudo quando, paradoxalmente, a queixa e a necessidade de alguns destes quadros
carece de um acompanhamento prolongado, que seja verdadeiramente eficaz na
possibilidade de reparar as fragilidades do sujeito. Paralelamente, o paradigma
medicamentoso impera nesta sociedade do imediatismo. “As pílulas mágicas”
funcionam como tampões para tais estados, mas não promovem a sua reparação e
integração. Esta convergência de fatores tornam-se verdadeiros obstáculos ao
tratamento, perpetuando um adiando na busca de uma solução eficaz que promova o
bem-estar ao sujeito.
Drª Joana Alves Ferreira
Sem comentários:
Enviar um comentário