Este não é um
texto sobre amor… nem sobre afetos… muito menos sobre o dia dos namorados! Este
é um texto sensível, escrito à luz das velas porque o mundo parece estar às
escuras. É um texto sobre uma mãe que cai para a água com as suas duas filhas
bebés, é um texto sobre as “miúdas” que consideram normal os rapazes
apalparem-lhes as partes mais íntimas (o que inclui também a alma!), é sobre
quem morre todos os dias mais um bocadinho porque não tem acesso a cuidados de
saúde mental, é sobre esta ideia que paira no ar de que a doença mental é
“coisa de malucos” e, por isso, só os malucos poderão precisar de ajuda…
As velas lançam
uma chama intensa, dirigida para cima, como que a desafiarem a tal gravidade.
O que faz uma
mãe cair para a água com as suas duas filhas bebés? Desespero?
O que faz uma
rapariga de 12 anos deixar-se levar para um armazém antigo e ser tocada e
abusada por rapazes de 18 e 20 anos e achar tudo isso normal? Desespero?
O que faz um
homem fechar-se numa repartição de uma Comissão de Proteção de Crianças e
Jovens e apontar uma arma aos técnicos? Desespero?
O que faz uma
criança, a quem todos os dias na escola humilham e que, quando chega a casa,
não tem lar e decide atirar-se para a linha de comboio? Desespero?
O que faz uma
criança que todos os dias humilha outras, magoa-as e as agride fisicamente e
que, quando chega a casa, não tem um lar e decide atirar-se para a linha de
comboio? Desespero?
O que faz um
pai, na última tentativa de ter acesso ao filho de quem foi privado o contato,
de o espreitar pelas grades da escola, no intervalo de dez minutos e, de
seguida dirigir-se à casa da mãe e dar-lhe um tiro? Desespero?
O que faz uma
mulher, mãe e trabalhadora chorar às escondidas na casa-de-banho do escritório
depois de se ter enganado a enviar um documento via e-mail e engolir uma série
de comprimidos sem ninguém perceber? Desespero?
Este é um texto
sobre ajuda… é urgente a ajuda (o amor!), é urgente o recurso à ajuda, é
urgente as pessoas aceitarem que a ajuda é um processo e que, como todos os
processos tem tempo e espaço para acontecer, é urgente o mundo acender todas as
velas e desafiar a gravidade que diz que o Psicólogo é para “malucos” e
compreender que a ajuda psicológica é para todos, para mim, para ti, para a mãe
que caiu para a água com os seus bebés e para as “miúdas” de 12 anos que
frequentam o primeiro ciclo… atempadamente!
“É urgente
permanecer…”
Lúcia
Paço
Psicóloga
Clínica e Terapeuta Familiar e de Casal
Canto
da Psicologia
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