quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

o pai do século vinte e um







Longe vão os tempos da expressão “um homem não chora”. Ou pelo menos espera-se que assim o seja, tal não tem sido a evolução do papel do homem na sociedade atual. Poderíamos falar da emancipação feminina, tão fundamental em tempos passados e, lamentavelmente, ainda necessária em tempos presentes. No entanto, optamos hoje por algo diferente, apesar de se poderem encontrar alguns pontos de contacto.

Se nos focarmos no papel que os homens ocupam no seio familiar, particularmente enquanto pais, é fácil ver algumas diferenças em relação a gerações passadas. Não generalizando, mas fazendo-o de qualquer forma, o pai do século vinte e um chora. E muda fraldas. E dá colo quando o bebé faz birra. E opina em relação à sua alimentação. E assiste ao parto, chegando até, quem sabe, a cortar o cordão umbilical, como quem diz “não te carreguei durante nove meses mas agora os meus braços são teus”. Claro que estas não são tarefas essenciais para que um homem alcance o estatuto de pai com legitimidade; queremos apenas demonstrar como a típica imagem paterna enquanto austera, distante e pouco cuidadora parece ter vindo a evoluir para um plano mais próximo da imagem materna, tipicamente associada a cuidados e afetos. Existem naturalmente exceções, e certamente que alguns homens no passado terão desafiado os cânones de então, assim como atualmente outros poderão não querer assumir este papel na vivência da sua parentalidade. Parece-nos, contudo, que este maior equilíbrio entre as funções desempenhadas pelos pais e pelas mães é já uma realidade em muitas famílias.

A bissexualidade psíquica do ser-humano começa a ser reconhecida com toda a naturalidade que lhe deverá ser inerente, sem preconceitos. De facto, a mãe também pode ralhar e impor regras, assim como o pai também pode curar um joelho esfolado com um beijinho. A mãe também pode ter uma carreira de sucesso e estar fora todo o dia, assim como o pai também pode optar por ficar em casa a tratar dos filhos. É uma conquista de ambos, o poderem desafiar o paradigma de género ainda tão disseminado pela nossa sociedade. De forma particular, e voltando à expressão que referimos inicialmente, é fantástico assistir à tomada de consciência de que, afinal, um homem pode chorar e não ser menos homem por isso.


Remetendo para a família, consideramos que é absolutamente essencial que exista um bom equilíbrio entre o casal parental, seja ele diferente do que estamos habituados ou não. Se este se apresentar como uma frente unida, com complementaridade e flexibilidade, é possível a ambos alternar entre funções e tarefas, e dançar juntos ao som de uma música que toca só nas suas cabeças, em harmonia.  




Drª Carolina Franco da Silva
O Canto da Psicologia



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