DIÁRIO DE UMA TERAPIA
Madalena, tocou à campainha…
Dia 24 de Abril
“ Será que não me enganei? Acho que sim, é direito. Ou será
que é esquerdo? Mas porque não abrem a porta? Ah…abriram…
Ao subir os degraus ainda me pergunto o que faço aqui. Já
devia ter juízo e saber controlar todas estas minhas coisas que nem eu sei o
que são. E o que é que eu vou dizer? Sei lá… As escadas são altas. Puxa, já
estou cansada! Não vou ter fôlego para falar. Será que ela é como aquelas que
dizem que passam a sessão caladas? Bom, gostei da voz ao telefone mas, se for
assim, eu levanto-me e vou-me embora. Era o que faltava, não tenho tempo para
perder tempo!
Mas estas escadas nunca mais terminam? Abriram a porta, é
melhor acelerar o passo para não estarem à espera! Ai, que as minhas pernas
parecem estar perras! Ou será que sou eu que estou? Mas o que é que eu estou
aqui a fazer! Nem consigo olhar para cima para ver se está alguém à porta! E
como faço? Cumprimento como? Dou a mão ou o rosto? Mas porque é que me
questiono com estas palermices? Nem pareço uma mulher de quase 40 anos mãe de
dois filhos! Mas porque é que eu vim cá?
- Bom dia Madalena!
Afinal, não correu mal. Já tenho sessão marcada para a
semana. Curioso, o dia em que venho à primeira sessão, vésperas de se comemorar
a liberdade! Será que vou poder comemorar a minha? Afinal, parece que eu tenho
uma série de grades a prender-me. Curioso! Bom, vou pensar…”
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