“Estávamos em Setembro de 1988 e era
o meu primeiro dia de aulas! E que contente que eu estava, tudo era novidade
para mim e eu olhava para aquilo que via de novo em cada dia como se de magia
se tratasse, acho que nunca tinha visto tantas coisas num tão curto espaço de
tempo! Lembro-me de que, na véspera, só tinha perguntado do meu avô se lá na
escola haveria meninas para brincar comigo, se os rapazes também gostavam de
jogar com bolas de trapos, se as meninas iriam gostar que eu lhes fizesse
trancinhas como a mamã me tinha ensinado… e o meu avô só me respondeu “Mirza,
lá na escola tu poderás ser aquilo que quiseres, lá os teus sonhos vão começar
a tornar-se realidade”.

Hoje, 30 anos mais tarde, sei que aquele
comentário da professora, também era racismo!
Seria mesmo preciso apresenta-la
isoladamente dos outros meninos, contar a sua história e reforçar que deviam
trata-la de igual modo? Será que esse mesmo reforço não é já uma chamada de
atenção para a diferença? E será que essa diferença existirá mesmo?
No
passado dia 21 de Março, comemorou-se o Dia Internacional pela Eliminação da
Discriminação Racial. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas
(ONU) em memória à tragédia que ficou conhecida como “Massacre de Shaperville”,
em 1960, na cidade de Joanesburgo, na África do Sul.
Na
ocasião, vinte mil negros protestavam contra a Lei do Posse — que os obrigava a
trazer consigo cartões de identificação, especificando os locais por onde eles
poderiam transitar na cidade — quando se depararam com tropas do exército, que
abriram fogo sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186.
Certamente este massacre irá chocar
praticamente todos os que possam ler este artigo. Mas, ainda hoje, os
preconceitos de raça manifestam-se de formas variadas em muitas partes do
mundo. E os “pequenos massacres”
ocorrem todos os dias, nos mais diversos cantos do mundo. Massacres que não
discriminam matando, massacres que até se orgulham de não discriminar pela
negativa, mas que enaltecem coisas como “um negro chegou a presidente”, “é um
negro com bom aspeto”, “um rapaz que até foi para a universidade e morava num
bairro social”…será que é assim tão estranho, para que mereça tamanho destaque?
Se “somos todos iguais”, vamos agir
em conformidade com essa igualdade! E a verdade, é que nada poderá espelhar
melhor essa mesma igualdade, do que sabermos que não, não somos todos iguais,
mas ainda bem que somos diferentes!
Drª Cláudia Ribeiro
O Canto da Psicologia
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