quinta-feira, 14 de abril de 2016

As vozes de comando ...









No dia 16 de Abril comemora-se o  Dia Mundial da Voz! Por aqui, todos os dias, vozes mais alto se levantam... e essas, muitas vezes não se ouvem...invadem, no silencio, o espaço mental de cada um e precisam que alguém lhes dê voz...

- Ás vezes não as consigo calar! - Dizia-me alguém referindo-se às vozes que o dominavam diariamente -  Elas mudam constantemente!
- Como assim?
Destabilizam-me; geram em mim um imensurável eco de medo, raiva, angústia e pavor ; um tico e um teco constante dentro da minha cabeça como se eu, não tivesse voz  ! E fico assim, entregue a estas guerras vocais, que são tudo menos musicais, e que preencham este mundo interno meu que não vive, sobrevive!

Um grilo falante habita em nós desde que a tomada de consciência de um pensamento poderoso mas silencioso, se apodera do nosso cérebro perpetuando  memórias e  encetando diálogos internos; uns dirão é a Voz da Consciência, outros, o superego em acção!

Criando um teatro interno, cada um de nós escolhe os seus actores e dá vida à personagem dando-lhe a voz que quiser, colocando no tom e nas palavras uma emoção modelada a partir da interacção social interiorizada de acordo com o poder significante que cada um foi  tendo no decorrer das nossas vidas! Os modelos, inspiradores do enredo, como os pais ou professores (superego) em alguns sujeitos assumem uma presença com um tal grau de importância e superioridade que em extremo de patologia manifestam-se na consciência através de alucinações sonoras!

Numa hierarquia mental em que as personagens introjectam  papeís , há um inconsciente em cada sujeito com a sua própria voz, o seu próprio tom e o seu lugar definido.
Vivemos presos a estas vozes, umas doentes e outras saudáveis; umas consistentes e outras frágeis; em extrema característica patológica, por razões que ainda hoje os neurocientistas vão pesquisando, limitados por estas vozes que comandam, ficamos entregues  a químicos e a medidas médicas às vezes demasiado extremadas mas que, de alguma maneira,  promovem alguma autonomia e funcionalidade!

E as outras? As que, de uma maneira ou de outra se encaixam num padrão saudável de comportamento mas são tão  poderosas que nos fazem questionar sobre a nossa própria sanidade mental e limitam as nossas vivências diárias?
Essas coabitam internamente numa relação estável e raramente são questionadas! 

- a voz desafiante : Tenho que chegar aquela esquina antes que o carro passe por aquele poste senão eu morro;
- a voz que incapacita: Não faças! Vais-te  dar mal;
- a voz que intimida: Experimenta! Estou a avisar-te! Vão-te despedir!
- a voz que anula: Hum! Nem tentes! Não vais conseguir!
- a voz que deprime: Nunca vais ser capaz!
- a voz que deprecia: não mereces esse amor!


E estas andam por aqui num compasso diário, com livre trânsito, assumidas enquanto "normais", rodopiando num universo mental, dificultando ainda mais a noção de precariedade emocional não justificando a procura de ajuda.

Essas sim, são perigosas!! pense nisso...

Drª. Ana de Ornelas

O Canto da Psioclogia



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