quinta-feira, 6 de julho de 2017

Um amor essencialmente bom...




“Lembra-te que uma verdadeira relação de amor implica, acima de tudo, amor mútuo” Greig

Nos deixamos levar pelos romances e poemas dos escritores, pela ficção, pelas canções amorosas que idealizam um amor que, na maioria das vezes, pode ser doentio. Assim vamos construindo uma visão quiça pobre, sobre os relacionamentos, que os mais depressivos irão encaixar na perfeição. O amor é dor, é sofrimento, é ansiedade, é desilusão, é lua-de-mel, é drama, é montanha russa, é “solitário andar por entre a gente, é ferida que dói e não se sente, é servir a quem vence o vencedor” e, também, é como a nossa última canção “um amar pelos dois”. Assim estamos, a par com as nossas relações privilegiadas, a construir a nossa representação do que é isto do amor. Mas será assim tão triste e doentio o nosso amor? Porque nos desviamos dele? Podemos um dia ser abençoados e ter a esperança de um amor, não diria idealizado, mas um bom amor? Ou seja duas pessoas inteiras que se unem por prazer e alegria. Que não obrigam ou castram o outro que o aceitam ou o amam por inteiro, apesar dos lados menos bons. Este amor que enaltece a alma, que dá alento, que se alimenta da felicidade do outro, o amor saudável! O amor que não suporta a infelicidade, do controlar, do manipular, aquele que faz crescer e evoluir. Embora nem sempre em felicidade plena, uma vez que todos os amores acarretam, também, alguma tristeza, zanga e impaciência. Pois quem se entrega fica vulnerável, é normal, mas isto pode não ser aceitável, a vulnerabilidade, a possibilidade de ser magoado pelo outro, esta implicação pode ser vivida com mais ou menos angústia consoante a saúde mental de cada um. 

Amar nem sempre é fácil, exige dedicação mas, acima de tudo, necessita de liberdade! Quanto mais amas, mais liberdade tem de existir! A liberdade para escolher e para que o outro escolha, todos os dias estar na relação. A liberdade para ser criativo e desenhar novas formas de estar, de se relacionar e de se re-inventar. 

Contudo aqui estamos a pensar sobre o amor, pois sabemos que a dor psicológica nasce do sentimento de não se ser amado, de não se ser alvo de desejo do outro, a depressão nasce deste desamor. Por vezes o sentimento de “desamor” é tão intrínseco que não podemos estar disponíveis para ver a beleza no outro e gostar de quem gosta de nós. Neste sentido andamos em busca de um amor que no fundo desconhecemos e, por isso, se torna difícil acreditar, não porque é impossível estar numa relação essencialmente boa. Não é perfeita, mas boa, no entendimento emocional, na reciprocidade, na capacidade de empatizar, de ouvir o outro, de apoiar e amar com desejo, apesar dos contratempos da vida e dos desentendimentos. Esta relação não é simplista, é desafiante, entusiasmante, diferente e, por isso, faz com que as pessoas mudem, se transformem, se conheçam melhor. Amar de verdade implica transformação, maturidade, não é fácil mas é simples, flui, acontece, atiça a curiosidade. Mas apenas, assim desperta entusiasmo, porque cada um tem um projeto de vida, tem sonhos próprios, cativa, porque acredita na vida. 

Apaixona porque apesar do medo, arrisca e avança para novas aventuras. Quando entra na relação não se esquece de si próprio, dos seus prazeres e interesses, não deixa de “existir” para existir para o outro. A única forma de mantermos o amor, é nunca deixarmos de nos amar primeiro, pois só amas o outro na mesma medida em que te amas. 

         
 

Mafalda Leite Borges
Canto da Psicologia




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