quinta-feira, 30 de abril de 2020

Era uma vez um casal...




Era uma vez um casal. Os seus membros acordavam a horas diferentes, tomavam o pequeno-almoço à pressa, iam trabalhar, trocavam umas mensagens ao longo do dia, voltavam do trabalho cansados, jantavam, estavam juntos e iam dormir, às vezes ao mesmo tempo mas, normalmente, também aqui, em horas diferentes.

Este casal, para a maior parte de nós, já não existe. Agora, acordamos e estamos juntos: de manhã, de tarde e de noite. Podemos fazer actividades e as nossas rotinas em horários diferentes mas estamos em casa. Sempre na mesma casa!! (e não esquecer, continua a ser importante ficar em casa!!!).

Como podemos viver e sobreviver a esta super exposição que, quase sempre, apenas nos sonhos adolescentes de paixões eternas e avassaladores, de amor e uma cabana, faz sentido e é desejada? A que sinais devemos estar atentos para garantir que o casal continuará vivo e robusto após esta fase?

Parece de especial importância pensar em manter ou criar três tempos fundamentais:

·         Tempo individual;
·         Tempo de partilha;
·         Tempo de intimidade.

Estes tempos são momentos importantes para manter a sanidade e o salutar crescer do Casal. Se perdermos a capacidade de estarmos sozinhos (para ler, meditar, ouvir música, entre outros) também estaremos a perder a capacidade de lidar com algumas situações internas, aumentando assim o peso sobre o casal.
Os outros tempos: partilha e intimidade são de grande utilidade para evitar e resolver conflitos e manter momentos de proximidade diferentes daqueles que, a simples presença 24h por dia, nos promove.

Esta fase da nossa vida social, comunitária, de família,casal e individual levanta muitas questões novas sobre a forma como experienciamos estes momentos. Em casal esperamos um aumento de vivências nem sempre positivas. Entre outras, podemos encontrar e estar atentos às seguintes:

·        Momentos de incompreensão face à ansiedade que esta pandemia nos trás;
·        Discussões, despoletadas por situações aparentemente insignificantes;
·        Períodos de zanga e “birra”, pós discussão mais prolongados;
·        Períodos de tristeza e choro não reconhecido ou apaziguado pelo outro;
·        Cansaço das pequenas coisas que o Outro (sempre) fez de forma regular;
·        Períodos de maior silêncio;
·        Explosões de, chamar-lhe-emos, mau humor mais regulares e violentas (aumento de           ofensas);  
·        Diminuição na nossa capacidade de reconhecer os nossos próprios erros;
·        Um regresso a situações dolorosas, aparentemente ultrapassadas, do passado.

Estas situações podem acontecer em todos os casais e muitas delas já fazem parte do quotidiano de alguns. No entanto, não indicam, necessariamente, que o casal esteja à beira da ruptura ou que o fim está próximo. Indica que o casal deve estar atento a tentar, através dos tempos acima referidos: individual, de partilha e de intimidada, falar sobre as situações que os estão a perturbar. Muitas vezes existe a tentação de não aumentar o problema ou de não voltar ao problema. E os acontecimentos traumáticos vão surgindo e vão-se acumulando sem que sejam falados e trabalhados. É um erro.

Usando os tempos de partilha, os casais podem ter um tempo, definido pelo casal, para falarem, por exemplo, das rotinas do dia, de quem faz o quê, do que será o jantar ou o almoço, reduzindo assim pontos de conflito. Este tempo de partilha, pode existir, num pequeno-almoço conjunto ou noutro período definido pelo casal.

O tempo de intimidade pode servir para estreitar laços, para conversar sobre tristezas ou só para estarmos em silêncio, mas juntos. Sem um ecrã, sem objectos a perturbar o estar próximo. Estar, sem outro motivo que não estar ali para e com o outro, muitas vezes, é só o que podemos fazer …e já é tanto!!

Sabemos que é difícil a criação destes momentos e a manutenção dos mesmos. Por isso, o Canto da Psicologia, tem à Vossa disposição técnicos especializados que podem ajudar os casais nesta fase difícil que todos atravessamos, e os casais, em especial, atravessam. Continuamos aqui para vocês. E, façam o que fizerem, continuem a falar uns com os outros…

Dr. João Martins
Psicólogo Clínico - Terapeuta de Casal e Família
O Canto da Psicologia





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