quinta-feira, 6 de abril de 2017

Depressão, vamos falar?







“Depressão. Vamos falar!” é o tema escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para as comemorações do Dia Mundial da Saúde 2017, assinalado anualmente no dia 7 de abril. Colocado no epicentro das preocupações do debate internacional para o corrente ano, não poderíamos ficar indiferentes e deixar de relembrar uma data que é da maior importância, mais ainda quando a esta estão associados espectros da saúde que tanto nos tocam. 

Efetivamente, é com algum agrado que vemos assinalado o Dia Mundial da Saúde em volta de um tema tão central como é a Depressão, sobretudo quando verificamos que ainda há um longo caminho a percorrer até que esta questão possa ser tratada condignamente. 

Em Portugal, temos assistido a um aumento considerável do consumo de antidepressivos nos últimos anos, o qual é acompanhado por um aumento da taxa de suicídios. Estes são os dados do mais recente relatório da Direção-Geral da Saúde, o qual revela, ainda, que Portugal é um dos países com maior prevalência de doença mental, sendo também um dos países onde a depressão assume maior gravidade e em que o intervalo de tempo entre o aparecimento dos sintomas e o início do tratamento é mais elevado. No que concerne à saúde mental, temos uma legislação caduca e pouco adaptada à realidade do nosso país, embora esse não seja, talvez, o maior dos problemas: a estigmatização que é feita face aos sintomas psicopatológicos e à doença mental está, ainda, profundamente enraizada na nossa sociedade, tradicionalmente conservadora. É neste cenário que Portugal se encontra em relação à saúde mental, ainda distante daquilo que mundialmente se preconiza. 

Será necessária, por isso, uma profunda transformação para que o sofrimento psíquico passa a ser falado “olhos nos olhos” – de resto, como indica o título dado ao debate deste ano -, a qual só poderá acontecer através do desenvolvimento de toda uma rede (quase inexistente) de cuidados de saúde primários e de políticas e programas que atuem numa lógica preventiva. 

A Depressão é, de acordo com alguns autores, a doença do século XXI. Se, em tempos idos, a histeria era o quadro clínico de eleição, hoje, os quadros depressivos ocupam lugar enquanto sintoma de uma espécie de mal-estar contemporâneo: são a expressão da fragilidade humana, numa sociedade frenética, híper-exigente, individualista, do parecer em vez do ser, da ditadura do consumo, do mérito quantitativo. As dificuldades inerentes à condição humana, essas, vão ficando esquecidas, em detrimento de uma certa superficialidade dos afectos, das relações, da forma como nos ligamos, num mundo onde impera o imediatismo. 

Onde se enquadra, então, o depressivo, nesta linha de trânsito? O depressivo é, em si mesmo, o sintoma deste mal-estar, navegando na contra-corrente: tem uma tonalidade triste, produz pouco, não se entusiasma, faz-se acompanhar de uma sensação de vazio, de desesperança, de culpa e de pensamentos punitivos, sentindo-se desenraizado, deslocado, pouco integrado. 
O número de depressivos e o seu crescendo a uma escala mundial serão a expressão deste empobrecimento das sociedades atuais, os quais só poderão ser pensados e compreendidos, através de debates que deem voz à depressão e à saúde mental. Esperamos que aqui e um pouco por todo o lado o tema seja relançado. Afinal, “Depressão. Vamos falar!”




Dr.ª Joana Alves Ferreira
O Canto da Psicologia




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